Analista diz à TV estatal russa que Moscou ‘calculou mal sua força’ e prevê derrota

Análises pouco otimistas do especialista ocorrem em meio a uma sensível mudança editorial da televisão estatal russa em relação à guerra na Ucrânia

Falando à TV estatal russa na segunda-feira (24), um analista político local foi veemente ao dizer que Moscou “calculou mal sua força” quando o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão de suas tropas à Ucrânia no dia 24 de fevereiro. Participando do programa Myesta Vstrechi (“Ponto de Encontro”, em tradução literal), Victor Olevich fez a pior previsão possível para a Rússia na guerra: “Não poderá vencer”. As informações são da revista Newsweek.

O comentário de Olevich veio após o apresentador do programa, Andrey Norkin, pedir ao especialista uma análise sobre as alegações do Kremlin de que Kiev estaria se preparando para usar em seu próprio território uma “bomba suja”, artefato não nuclear que pode disseminar material radioativo. O objetivo seria culpar os invasores pelo ataque que contaminaria uma área geográfica.

“Estamos tocando todos os sinos. No sábado, Sergei Shoigu falou com Lloyd Austin, pelo que entendi. Os americanos ligaram, não nós, e no domingo houve conversas com Londres e Paris. O que pode vir disso?” perguntou Norkin, ao se referir sobre uma conversa do ministro da Defesa russo com o secretário da Defesa norte-americano, além do contato com homólogos europeus.

Ministro da Defesa russo Sergei Shoigu (esq.) e o chefe do estado-maior Valery Gerasimov (Foto: Facebook)

Olevich lançou um olhar crítico para o conflito e foi enfático ao responder. “Aqui está o que parece: a Rússia iniciou uma operação militar especial, calculou mal sua força por oito meses seguidos e não pode vencer”, declarou. E acrescentou: “Ao mesmo tempo, reclama que seus oponentes não estão prontos para ouvi-la, confiar e apoiá-la”.

As observações nada otimistas do especialista ocorrem em meio a uma sensível mudança editorial da televisão estatal russa em relação à guerra, que agora exige respostas do governo russo por meio de convidados e apresentadores e admite as falhas de Moscou no conflito.

“Podemos ficar indignados e com raiva até ficarmos azuis, mas isso não resolverá nossos problemas de forma alguma”, observou Norkin após a resposta do analista.

O apresentador do talk show questionou o especialista se ele acredita que a Rússia pode “impedir uma provocação nuclear”.

“A melhor maneira de evitar qualquer provocação é expô-la, e não apenas em conversas telefônicas com alguns líderes estrangeiros, especialmente com países adversários. Mas, se há informações reais, provas reais, sobre onde esta bomba suja está localizada, onde eles planejam usá-la? Onde estão os documentos? Mostre os documentos. Estas provocações não acontecem sem ordens”, desafiou Olevich.

“Terrorismo nuclear”

Na noite de segunda-feira (24), o Kremlin redobrou o alerta e levou os supostos planos de Kiev de usar uma bomba suja à ONU (Organização das Nações Unidas) por meio de uma carta. No documento, diz que levaria a questão ao Conselho de Segurança nesta terça (25), segundo informou a agência Reuters.

“Vamos considerar o uso da bomba suja pelo regime de Kiev como um ato de terrorismo nuclear”, disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, na carta direcionada ao secretário-geral António Guterres e ao Conselho de Segurança.

FrançaReino Unido e Estados Unidos sustentam que as alegações de Moscou sobre o uso da chamada “arma de perturbação em massa” são falsas.

“O mundo entenderia qualquer tentativa de usar essa alegação como pretexto para uma escalada”, disseram os ministros das Relações Exteriores dos três países em comunicado conjunto.

Segundo a rede CNN, a agência nuclear da ONU disse que deve enviar inspetores a dois locais ucranianos não identificados a pedido de Kiev, ambos já sujeitos a suas inspeções, em uma aparente resposta à alegação de “bomba suja” da Rússia.

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