Após ataque à Ucrânia, países bálticos temem ser os próximos alvos de Putin

Estônia, Letônia e Lituânia temem que Putin avance o exército russo aos seus territórios, nos moldes da extinta União Soviética

Especulações não faltam sobre o que o presidente russo Vladimir Putin pretende fazer com suas tropas após invadir a Ucrânia com um ataque em grande escala. E isso assusta principalmente as populações das ex-repúblicas soviéticas bálticas, Estônia, Letônia e Lituânia. Preocupa particularmente quem viveu sob o domínio soviético e agora teme ser o próximo alvo, segundo a rede Voice of America (VOA).

A beligerância do Kremlin frente à Ucrânia trouxe de volta memórias da época da Guerra Fria, atmosfera política em que deportações em massa e repressão eram parte do cotidiano.

“Meus avós foram mandados para a Sibéria. Meu pai foi perseguido pela KGB [antigo serviço secreto russo]. Agora vivo em um país livre e democrático, mas parece que nada pode ser dado como certo”, disse Jaunius Kazlauskas, professor de 50 anos residente em Vilnius, capital da Lituânia.

Após ataque à Ucrânia, países bálticos temem ser os próximos alvos de Putin
Milhares de pessoas se reuniram nesta quinta-feira na capital da Lituânia para manifestar apoio à Ucrânia (Foto: Twitter/Reprodução)

A ofensiva russa sacudiu os países bálticos nesta quinta-feira (24). Na Lituânia, o presidente Gitanas Nausėda declarou estado de emergência. Já a Letônia, como medida para estancar a disseminação de fake news, suspendeu as licenças de transmissão de várias emissoras de TV russas acusadas de espalhar desinformação e propaganda.

Membros da Otan

As nações bálticas foram capturadas e anexadas por Stalin durante a Segunda Guerra Mundial, independência só retomada após o colapso da União Soviética em 1991. Os três países são Estados-Membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) desde 2004, estando, portanto, sob proteção militar dos EUA e demais aliados da aliança atlântica. Diferente d Ucrânia, que não faz parte da Otan, sendo a aproximação com o pacto intergovernamental um dos motivos alegados por Moscou para a incursão militar.

Juntamente com a Polônia, que também integra a Otan, os bálticos são ferrenhos defensores de pesadas sanções contra Moscou e reivindicam reforços da aliança militar no flanco leste. Nas últimas semanas, lideranças da região fizeram uma tour por capitais europeias para levar o alerta e cobrar ações que o Ocidente deveria lançar para fazer Putin pagar pela invasão à Ucrânia. Na visão dos três países, caso medidas não sejam tomadas para conter o ímpeto do mandatário russo, seus tanques continuarão avançando em direção a outros territórios que formavam o antigo império soviético.

“A batalha pela Ucrânia é uma batalha pela Europa. Se Putin não parar por aí, ele irá mais longe”, alertou o ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, na semana passada, durante coletiva de imprensa que teve a participação do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.

Apesar de Putin nunca ter manifestado publicamente qualquer intenção de retomar o controle do Kremlin sobre os países bálticos, há um grande temor entre estonianos, letões e lituanos de que ele queira reorganizar a União Soviética, dissolução já descrita por ele como “uma tragédia para o povo russo”.

Dois dias antes da investida de Moscou sobre a Ucrânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que algumas de suas forças baseadas na Europa, incluindo 800 soldados de infantaria, caças F-35 e helicópteros Apache, seriam transferidas para os três Estados bálticos, medida que ele definiu como “puramente defensiva”. A notícia foi recebida com entusiasmo na região.

“A Rússia sempre mede o poderio militar, mas também a vontade dos países de lutar”, disse Janis Garisons, secretário de Estado do Ministério da Defesa da Letônia. “Uma vez que eles enxergam uma fraqueza, eles exploram essa fraqueza”.

Estônia, Letônia e Lituânia manifestaram apoio aos ucranianos. Seus líderes inclusive viajaram a Kiev recentemente para mostrar solidariedade, bem como enviaram armas e ajuda humanitária ao país.

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