Entre 4 e 5 milhões de russos deixaram seu país desde que Putin assumiu o poder

Segundo estudo publicado por portal de Moscou, maior volume de saídas foi registrado entre 2016 e 2019, com média de 300 mil emigrações anuais

Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), 10 milhões de russos vivem hoje em países estrangeiros. É o terceiro maior índice de emigração global, atrás apenas de Índia e México. Desde o ano 2000, entre 4 e 5 milhões de cidadãos deixaram a Rússia para morar em outros países. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores independentes e publicado pelo portal moscovita Takie Dela.

O período abordado no estudo coincide com o de Vladimir Putin no poder. Ele assumiu efetivamente como presidente no dia 31 de dezembro de 1999, após a renúncia de Boris Yeltsin. O fluxo, porém, cresceu bastante nos últimos anos, sendo que o maior volume de saídas foi registrado entre 2016 e 2019: em média 300 mil emigrações anuais.

Até 5 milhões de russos deixaram seu país desde que Putin assumiu o poder
Vladimir Putin, presidente da Rússia, em janeiro de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

O estudo levou em conta dados fornecidos pelo Rosstat, o serviço estatal de estatísticas. Nesse levantamento, porém, são listados apenas aqueles que deixaram o país e pediram o cancelamento do registro nacional. “E nem todo mundo faz isso. Os dados dos países ocidentais receptores sobre o número de russos que ingressaram neles excedem os números do Rosstat em 6 a 10 vezes”, diz o relatório.

Foi a partir dessas estatísticas imprecisas que o estudo chegou a um número que considera mais próximo da realidade. “Uma análise dos dados disponíveis sugere que a emigração total da Rússia no período de 2000 a 2020 foi de 4 a 5 milhões de pessoas. Aqui, estamos falando apenas sobre os cidadãos da Federação Russa”, afirma o documento.

O destino dos emigrantes varia, embora não existam dados precisos sobre a questão. Mas é possível afirmar que metade das pessoas listadas emigrou para países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), que engloba, além da própria Rússia, outras oito nações que pertenciam à extinta União Soviética. A outra metade seguiu para nações que não fazem parte do bloco.

As causas mais citadas para deixar o país, numa pergunta que permitia múltiplas respostas, são: segurança (64%), nova experiência de vida (59%), situação política (54%), estabilidade (53%) e futuro dos filhos (51%). A religião foi a menos citada, por apenas 3% dos entrevistados.

Por que isso importa?

O atual mandado de Putin terminará em três anos, mas é amplamente esperado que ele permaneça no poder após 2024. Porém, a dura repressão imposta à oposição, a situação econômica desconfortável do país e o projeto fracassado de combate à Covid-19 derrubaram a popularidade do presidente. Nada capaz de tirá-lo do poder, ao menos no curto prazo. Mas o enfraquecimento político já é visível.

“Os russos têm lutado contra a deterioração dos padrões de vida nos últimos sete anos e estão cada vez mais conscientes de que seu país não tem chance de um crescimento econômico substancial. Eles também se tornaram mais bem informados sobre as violações dos direitos civis perpetradas por agências estatais. A demanda social por reformas sistêmicas também tem crescido”, disse Maria Domańska, especialista em política doméstica russa, em artigo publicado após as eleições parlamentares de setembro.

O pleito foi marcado pela repressão aos opositores e pelas inúmeras acusações de fraude, um sinal claro da fragilidade política dos governistas. Embora o regime de Putin não corresse um risco real de ser derrotado na votação, o Kremlin sentiu a necessidade de se prevenir e tratou de assegurar a vitória do Rússia Unida, partido aliado ao presidente.

“Por muito tempo, a comunidade internacional jogou junto com a farsa de que a Rússia moderna ainda é uma democracia em funcionamento. Isso só serviu para fortalecer a posição de Putin no cenário internacional e aumentar suas reivindicações de legitimidade dentro da própria Rússia. Agora é hora de tentar uma abordagem diferente”, disse logo após o pleito Oleksiy Goncharenko, deputado ucraniano do partido Solidariedade Europeia.

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