A Suprema Corte da Rússia manteve nesta semana a condenação de 12 anos de prisão imposta ao ativista russo Mark Kislitsyn, acusado de financiar as forças ucranianas após enviar o equivalente a cerca de US$ 10 para uma conta bancária da Ucrânia. A decisão gerou críticas internacionais e levantou preocupações sobre o tratamento desumano sofrido pelo acusado, conhecido por sua posição contrária à invasão da Ucrânia e pelo ativismo LGBT. As informações são da ONG Anistia Internacional.
A denúncia surgiu após Kislitsyn realizar uma pequena transferência bancária para um banco ucraniano logo após o início do conflito, em fevereiro de 2022. As autoridades russas alegam que a conta beneficiada estava arrecadando “doações para as necessidades das Forças Armadas da Ucrânia”, configurando assim um crime contra a segurança nacional.
Kislitsyn nega as acusações e afirma que a ação judicial tem como real objetivo silenciar sua oposição à guerra. Preso desde dezembro de 2023, ele denuncia maus-tratos, períodos prolongados em isolamento e a negação deliberada de cuidados médicos essenciais para sua saúde como homem transgênero.

Segundo a Anistia Internacional, que acompanha o caso, essas práticas revelam que “o verdadeiro objetivo da acusação não é proteger a segurança do Estado, mas punir um comprometido ativista pelos direitos humanos por sua posição antiguerra”.
“Aprisionar Mark Kislitsyn em uma colônia penal sob acusações de ‘traição’ por enviar US$ 10 para uma conta na Ucrânia desafia o senso comum”, afirmou a pesquisadora da Anistia sobre a Rússia Natalia Prilutskaya. “Exigimos a libertação imediata de Mark Kislitsyn e o fim da perseguição de todos os ativistas antiguerra na Rússia.”
Desde novembro do ano passado, Kislitsyn já passou mais de 70 dias em uma cela punitiva conhecida como SHIZO, frequentemente utilizada para isolamento total dos presos. Familiares e organizações de direitos humanos denunciam que, nesses períodos, o ativista sofreu tratamento abusivo e permaneceu em condições extremas, exposto a temperaturas severas e em isolamento quase total.
Apesar da perseguição e das duras condições na prisão, Kislitsyn declarou recentemente que não irá ceder às pressões das autoridades russas.
“Aqueles que tentam me intimidar podem me fazer um pouco de mal, mas não importa o que façam, não podem me fazer renunciar às minhas crenças, perder meu senso de pertencimento ao meu país ou mesmo arruinar meu humor”, declarou ele em carta aberta.