Com multas, prisões e morte, repressão contra comunidade LGBT cresce na Rússia

Leis extremistas levaram a prisões, multas e fechamento de espaços dedicados à comunidade, gerando temor e repressão crescente

O ano de 2024 marcou uma escalada significativa na repressão contra a comunidade LGBT na Rússia. A entrada em vigor de uma decisão da corte superior russa em janeiro, que classificou o “Movimento Internacional LGBTQ” como organização extremista, foi o ponto de partida para medidas ainda mais rigorosas. Desde então, pelo menos 12 processos criminais por “extremismo” foram abertos, segundo dados do projeto de direitos humanos OVD-Info reproduzidos pela rede Voice of America (VOA).

Dmitry Anisimov, porta-voz do OVD-Info, explica que a maioria dos casos tem origem em batidas policiais realizadas em clubes voltados ao público LGBT.

“Dos 12 processos relatados, 11 envolvem pessoas que trabalhavam em locais ligados à comunidade, e não necessariamente ativistas”, afirmou Anisimov. Segundo ele, tais operações são frequentemente violentas, com relatos de agressões, revistas forçadas e convocações militares arbitrárias. Muitas dessas batidas resultaram no fechamento de estabelecimentos.

Para o advogado Max Olenichev, que atua na defesa dos direitos LGBT, as autoridades usam clubes e bares como alvos fáceis para justificar acusações criminais. “Esses locais são mais visíveis e, portanto, mais simples de monitorar. Já eventos como grupos de apoio são mais difíceis de caracterizar como atividades criminosas”, argumenta ele, alertando que em 2025 esses espaços continuarão sob vigilância constante.

Bandeiras LGBT em Reykjavik, na Islândia, em julho de 2019 (Foto: Jasmin Sessler/Unplash)
Punições severas e impacto cultural

As consequências da repressão vão além das prisões. Multas altas e prisões administrativas foram impostas por publicações que as autoridades consideram “propaganda LGBT“. Uma estudante em Moscou foi multada em 500 mil rublos (R$ 28,4 mil) por imagens publicadas na rede social VK cinco anos atrás, caso que ilustra o uso retroativo e arbitrário da legislação.

Até mesmo o uso de acessórios coloridos tem sido alvo das autoridades. Em janeiro, uma mulher foi detida por usar brincos com as cores do arco-íris, embora eles não representassem diretamente a bandeira LGBT tradicional.

A repressão também atingiu o setor cultural. Filmes como Brokeback Mountain, Me Chame Pelo Seu Nome e Azul é a Cor Mais Quente foram removidos de plataformas digitais russas devido a multas milionárias relacionadas à suposta “propaganda”.

Primeiro caso de morte em prisão

A morte de Andrei Kotov, diretor de uma agência de turismo acusado de organizar viagens para pessoas LGBT, trouxe à tona as condições degradantes enfrentadas pelos detidos. Ele foi encontrado morto em um centro de detenção em Moscou em dezembro. Embora a versão oficial aponte suicídio, o grupo de direitos humanos Gulagu.net denuncia que Kotov sofreu assédio e extorsão enquanto estava preso.

O clima de repressão crescente tem levado muitas pessoas da comunidade a se isolarem, evitando espaços públicos e reduzindo sua visibilidade nas redes sociais. “As pessoas estão cada vez mais se fechando, mas é crucial manter conexões sociais, mesmo em ambientes privados”, enfatiza Olenichev.

Ativistas temem que, em 2025, a situação piore, com mais processos judiciais e menos representatividade no espaço público.

Apesar das adversidades, a resistência silenciosa segue sendo um caminho para preservar laços comunitários e resistir às opressões. “Nenhuma lei pode proibir as pessoas de irem juntas ao cinema, fazerem festas em casa e de alguma forma se comunicarem entre si sobre qualquer assunto”, afirma o advogado.

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