Bandeira da Rússia perde a cor vermelha nos protestos contra a guerra na Ucrânia

Manifestantes adotam bandeira listrada em branco, azul e branco, sem o vermelho símbolo do 'derramamento de sangue'

Nos protestos de rua realizados em todo o mundo contra a guerra, um novo elemento tem sido visto ao lados das habituais bandeiras em azul e amarelo da Ucrânia. É uma bandeira com três listras, em branco, azul e branco, que nas últimas semanas tornou-se um dos maiores símbolos das manifestações pelo fim do conflito iniciado em 24 de fevereiro com a invasão das tropas russas ao território ucraniano. As informações são do jornal britânico Guardian.

A ideia de adotar o símbolo partiu de um grupo de manifestantes russos liderado pela designer Kai Katonina, de 31 anos, que vive em Berlim. “Infelizmente, a tricolor russa foi completamente apropriada pela propaganda estatal e pelos militares. Precisávamos de uma bandeira que não tivesse conexão com violência e guerra”, diz ela.

Segundo ela, a ideia é passar uma mensagem de paz com a retirada do vermelho. “É como se alguém jogasse tinta branca sobre a vermelha, sobre o derramamento de sangue que está acontecendo”.

Manifestantes pedem pazam exibindo a bandeira azul e branca ao lado da bandeira da Ucrânia (Foto: reprodução/Twitter)

Embora Katonina trate seu grupo como pioneiro, ela admite que a mesma ideia surgiu paralelamente em outros lugares, inclusive dentro da própria Rússia. “Foi engraçado ver que, ao mesmo tempo, outros russos que se opunham à guerra estavam levantando a mesma bandeira. Alguma colaboração inconsciente estava acontecendo”.

Uma inspiração histórica dos idealizadores da ideia é a bandeira da cidade de Veliky Novgorod, uma das mais antigas da Rússia e conhecida como o berço da democracia nacional. “O simbolismo de Veliky Novgorod era importante para nós. Era tão democrático quanto um lugar poderia ser no século 12”, disse Katonina.

Outro evento importante que ajudou a fortalecer a ideia da bandeira foi a onda de protestos populares em Belarus, onde uma bandeira listrada em branco, vermelho e branco, sem a cor verde, foi adotada por opositores do presidente Alexander Lukashenko.

Se em Belarus a bandeira dos manifestantes gerou prisões, com casos de cidadãos detidos por usarem meias com tal combinação de cores, a Rússia segue caminho semelhante. Tem sido debatida a criação de uma lei que tornaria a bandeira em branco, azul e branco um símbolo “extremista”.

Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Nos últimos anos, os protestos coletivos praticamente desapareceram das ruas, com o governo usando a pandemia de Covid-19 para punir grandes manifestações, sob a alegação de que o acúmulo de pessoas fere as normas sanitárias.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos.

Dentro da severa legislação para controle das manifestações na Rússia, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 16,9 mil), com possível pena de prisão por até 30 dias. Já uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”. A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

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