‘Força excessiva’ marca repressão na Rússia, com 13,5 mil presos em protestos

ONG que monitora violações aos direitos humanos relata abuso de força policial em atos pacíficos no país desde o início do conflito

A polícia da Rússia estaria usando “força excessiva” para deter manifestantes nos atos pacíficos em repúdio à guerra na Ucrânia, relatou na quarta-feira (9) a ONG Human Rights Watch (HRW). Muitos dos casos também estariam configurando “abuso equivalente a tortura ou tratamento desumano e degradante aos que estão sob custódia”.

A ONG relata que pessoas têm sido presas por segurarem cartazes, marchar e gritar frases como “não à guerra!”. Também houve detenções de manifestantes vestidos com as cores azul e amarela, em referência à bandeira ucraniana, de cidadãos que filmaram prisões e até casos de indivíduos que estavam, aparentemente, de passagem.

Homem foi detido em São Petersburgo com cartaz dizendo “Não à guerra!” (Foto; OVD-Info/Twitter)

Já a OVD-Info, organização de direitos humanos que monitora as prisões na Rússia, afirma que pelo menos 13,5 mil pessoas foram detidas de forma arbitrária desde que o presidente Vladimir Putin deu ordens para a incursão militar em grande escala no Leste Europeu.

Para Hugh Williamson, diretor da HRW para Europa e Ásia Central, o Kremlin está retirando das pessoas o direito à liberdade de manifestação, abafando as vozes de quem condena o conflito.

“A escalada da violência policial ilustra até que ponto as autoridades russas irão intimidar e silenciar a dissidência, diz ele.

No último domingo (6), mais de quatro mil manifestantes foram presos durante atos que ocorreram em diversas cidades, segundo a OVD-Info. Na terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, dezenas de manifestantes foram detidos durante protestos pacíficos em todo o país. Um dos atos mais marcantes da data foi o de mulheres colocando flores ao lado de monumentos como protesto à guerra.

Manifestações públicas de contrariedade à invasão russa têm sido violentamente reprimidas pelas forças de segurança desde o dia 24 de fevereiro. A repressão se estende à mídia independente, que teve reportagens criminalizadas, relata a HRW.

Desde 24 de fevereiro, as autoridades russas vêm reprimindo qualquer expressão pública que esteja em desacordo com narrativa oficial do governo, que é de “missão de paz”. A mídia independente também é alvo de censura, com reportagens sendo criminalizadas, observou a HRW.

A OVD-Info também denunciou que houve pelo menos 34 casos em que policiais agrediram manifestantes nos protestos do dia 6 de março. 

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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