Calor extremo no verão causou mais de 61 mil mortes na Europa em 2022, diz estudo

Itália, Espanha e Alemanha tiveram o maior número de óbitos por consequência de temperaturas elevadas no ano passado

Um estudo publicado na revista Nature Medicine na segunda-feira (10) revelou que mais de 61 mil pessoas morreram devido às altas temperaturas durante o verão na Europa no ano passado. Essas estimativas ressaltam o risco crescente dos eventos de calor extremo causados pelas mudanças climáticas, situação que pode ser ainda pior neste ano devido ao fenômeno El Niño.

Os pesquisadores examinaram dados de mortalidade em excesso coletados em mais de 800 regiões de 35 países europeus. Frequentemente, o número de mortes e danos resultantes desses eventos não é imediatamente apurado.

A Itália foi o país mais afetado, registrando cerca de 18 mil mortes, seguida pela Espanha, com pouco mais de 11 mil, e pela Alemanha, com aproximadamente oito mil.

Criança procura se refrescar em uma fonte no Zoológico de Leipzig, na Alemanha (Foto: WikiCommons)

O estudo também destacou que os idosos e as mulheres foram desproporcionalmente afetados, com uma taxa de mortalidade relacionada ao calor 63% maior nas mulheres e um aumento significativo no número de mortes para pessoas com 65 anos ou mais.

Diferenças fisiológicas e socioculturais podem explicar a disparidade de mortes entre homens e mulheres devido ao calor extremo. Os pesquisadores também observaram que diferenças na estrutura etária contribuíram para mais mortes entre mulheres idosas e mais mortes entre homens jovens.

Diante da magnitude das mortes relacionadas ao calor, os países europeus devem reavaliar e fortalecer suas estratégias de rastreamento e resposta a lesões relacionadas ao calor, disse à agência Reuters Chloe Brimicombe, cientista do clima da Universidade de Graz, na Áustria.

Ouvida pela rede CNN, Joan Ballester, epidemiologista da ISGlobal e principal autora do estudo, disse que a onda de calor de 2003 serviu como um alerta para a falta de preparação e fragilidade do sistema de saúde da Europa diante de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. Ainda assim, os países não estavam preparados em 2022.

O verão ainda agravou a seca em toda a Europa, resultando em ameaças às colheitas e em um significativo aumento nos preços dos produtos agrícolas na União Europeia (UE). Além disso, as altas temperaturas contribuíram para a segunda pior temporada de incêndios florestais já registrada no continente, com quase 17 mil eventos do tipo queimando mais de 1,62 milhão de hectares.

EUA devem ficar atento

O estudo destaca a seriedade do calor extremo como risco à saúde. Nos EUA, por exemplo, o calor mata mais pessoas do que qualquer outro desastre relacionado ao clima, mas as estatísticas sugerem menos mortes por calor em comparação com a Europa.

Possíveis explicações incluem a subnotificação nos EUA e a falta de ar-condicionado no continente europeu, segundo David S. Jones, médico e historiador da Universidade de Harvard. Além disso, áreas norte-americanas mais expostas ao calor podem ser menos vulneráveis em comparação com regiões como o nordeste do país, Chicago ou Europa.

Nos Estados Unidos, cerca de 90% das residências possuem ar-condicionado, enquanto na França esse número é de apenas 5%, de acordo com Jones, que não está envolvido no estudo.

Termômetros em alta

Neste ano, o mundo está presenciando uma confluência entre os impactos das mudanças climáticas antropogênicas e o fenômeno do aquecimento global, com um evento El Niño em curso.

Como resultado, segundo o estudo, a população global já testemunhou o estabelecimento de novos recordes de temperatura global. No mês de abril, a Europa Ocidental e o noroeste da África foram afetados por uma onda de calor no início da temporada, cuja intensidade seria considerada “quase impossível” sem os efeitos do aquecimento causado pelo homem.

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