Canal criado pelo grupo de Navalny estreia via satélite para driblar censura russa

'Futuro da Rússia' usa sistema operado a partir da Europa para transmitir investigações e conteúdos políticos proibidos no país

A Rússia passou a receber na quarta-feira (4) o sinal de um novo canal de TV com conteúdo político bloqueado há anos pelas emissoras nacionais. Batizado de “Futuro da Rússia”, o canal foi lançado por iniciativa conjunta da Fundação Anticorrupção (ACF), criada por Alexei Navalny, e da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A transmissão é feita via satélite, com alcance em toda a Europa, Oriente Médio e África, por meio do Hotbird, operado pela empresa francesa Eutelsat, o que permite driblar a censura russa. As informações são da rede NPR.

A nova emissora integra o pacote Svoboda Satellite, que reúne 13 canais e é coordenado por Jim Phillipoff. Segundo ele, 45% dos russos acompanham notícias pela TV via satélite. “Por mais de 20 anos, o público russo foi bombardeado com propaganda antidemocrática, antiocidental, anti-ucraniana e pró-autoritária”, afirmou. “Achamos que esse projeto é um passo muito importante porque leva o excelente conteúdo do grupo Navalny, que é incrivelmente popular, para o público russo que consome TV.”

Antes de morrer em um presídio russo na sibéria, em fevereiro de 2024, Navalny ganhou notoriedade por meio de seu canal no YouTube, com investigações sobre corrupção que acumularam dezenas de milhões de visualizações. Ele e seus colegas foram banidos da televisão russa ainda nos primeiros anos de sua atuação como opositor do Kremlin.

O oposicionista Alexei Navalny e a mulher dele, Yulia Navalnaya (Foto: reprodução/Instagram)

O lançamento do canal foi anunciado em Paris por Yulia Navalnaya, viúva de Navalny e atual presidente da fundação, ao lado de representantes da RSF. Ela destacou as dificuldades de manter as investigações ao longo da guerra na Ucrânia, com o fechamento da mídia independente e o avanço da censura.

“Estamos tentando fazer o nosso melhor trabalhando com o YouTube”, disse. “Há muitos problemas, e ele pode ser bloqueado a qualquer manhã.”

Phillipoff explicou por que apostou na tecnologia via satélite. “Não é tão simples bloquear satélites em geral, e o nosso em particular”, afirmou. “Não posso entrar em detalhes. Vamos apenas dizer que isso ainda não foi feito.”

Ruslan Shaveddinov, editor-chefe da ACF, acredita que a nova emissora poderá levar informações confiáveis a uma audiência historicamente exposta à desinformação. “Isso se tornou ainda mais urgente desde a guerra na Ucrânia. Só se pode obter informação verdadeira por meio de fontes e veículos independentes. Estamos muito mal informados. Mas, com esse projeto, talvez as pessoas passem a saber dos crimes que estão sendo cometidos e do que realmente está acontecendo.”

Thibaut Bruttin, diretor-geral da RSF, lembrou que a Rússia ocupa a 171ª posição entre 180 países no ranking de liberdade de imprensa elaborado pela entidade. “O que estamos tentando fazer é promover, pouco a pouco, essa ideia de que a verdade importa, que os fatos importam”, disse. “Acho que a guerra em curso na Ucrânia mostra os limites da propaganda russa.”

Navalnaya afirmou que o lançamento do canal em 4 de junho foi pensado como uma homenagem, pois Navalny completaria 49 anos nesta data. “Ele era um grande homem, e isso vai ajudar a manter seu legado vivo”, disse. “Sei que ele ficaria muito feliz por alcançar novas pessoas com informações sobre o Kremlin, a corrupção e a guerra. Sobre tudo o que está acontecendo agora na Rússia.”

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