O líder da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, afirmou durante uma reunião com a indústria de defesa na Suécia, na quarta-feira (25), que, devido ao esgotamento dos estoques de armamentos e às crescentes preocupações com a segurança, os países membros da aliança precisam aumentar a produção bélica a longo prazo. As informações são do portal militar Stars and Stripes.
Stoltenberg destacou que, mesmo após o eventual término do conflito na Ucrânia, embora este não surja no horizonte por enquanto, é essencial que os aliados estejam preparados para reforçar suas capacidades militares, considerando as atuais ameaças, como Rússia e China, e consequentemente um ambiente global mais instável.
“Não há como voltar para onde estávamos antes”, disse o secretário-geral em Estocolmo.
Os países da Otan e seus fornecedores de defesa já enfrentavam dificuldades para atender à demanda causada pelo conflito entre Moscou e Kiev. E, agora, têm uma preocupação a mais por conta do apoio de alguns dos membros a Israel, que está se preparando para uma ofensiva terrestre em Gaza.
Na terça-feira (24), o Pentágono anunciou que os Estados Unidos estão pressionando a indústria armamentista a expandir sua capacidade de produção, com foco especial na fabricação de cartuchos de 155 milímetros, que estão em grande procura e têm aplicações variadas em diversos sistemas.
Com vistas ao aumento da produção, o porta-voz do Pentágono, brigadeiro-general Patrick Ryder, afirmou que tem colaborado de perto com a indústria de defesa, não apenas nos EUA, mas também em seus aliados, parceiros e suas bases industriais do setor.
Ryder expressou confiança de que as demandas de Israel e da Ucrânia serão atendidas. No entanto, outros Estados-Membros da aliança militar estão temerosos com a situação.
Padronização
Enquanto isso, a Otan insta seus membros a superarem o protecionismo e chegarem a um consenso sobre um padrão único para munição de artilharia de 155 milímetros, segundo a agência Reuters. Isso é necessário para aumentar a produção de cartuchos que estão em alta demanda e, ao mesmo tempo, reduzir os preços, que subiram devido à invasão russa na Ucrânia.
O almirante Rob Bauer, chefe do comitê militar da aliança, pediu aos aliados que deixem de proteger seus fabricantes nacionais de armas. Ele comparou o modelo de negócios atual dessas empresas ao das fabricantes de impressoras, enfatizando que o lucro real está na munição, não nas armas em si.
“O fabricante não ficará rico por causa das impressoras que fabrica, mas por causa da tinta”, observou Bauer. E acrescentou: “Um soldado no campo de batalha não se importa com quem produziu uma caixa com cartuchos 155 milímetros, desde que caibam e possam atirar direto.”
Segundo a autoridade militar, o custo de um projétil de artilharia subiu para 8 mil euros (aproximadamente R$ 42,2 mil), em comparação com os anteriores 2 mil euros (cerca de R$ 10,5 mil), devido ao ataque da Rússia à Ucrânia.
Os países ocidentais têm enfrentado desafios para aumentar a produção de projéteis de artilharia. Enquanto isso, Kiev está usando grandes quantidades desses cartuchos diariamente, esgotando seus estoques muito mais rapidamente do que os aliados conseguem produzi-los.
Bauer explicou que a falta de padronização se deve ao fato de que o mercado de defesa diminuiu consideravelmente desde a Guerra Fria, quando os países da Otan gastavam de 3% a 6% do seu PIB com suas forças armadas.
Ele destacou que o número de compradores diminuiu, a quantidade de dinheiro disponível também e, por isso, todos os países protegem suas próprias indústrias de defesa. O militar observou que, durante o conflito político-ideológico travado entre EUA e União Soviética entre 1947 e 1991, havia mais recursos disponíveis e “todos estavam ganhando uma fatia do bolo”.
No começo deste mês, Bauer já havia alertado para a escassez de munição na Ucrânia, quando afirmou que “o fundo do barril é visível”.