Civis russos são forçados a fugir para a Ucrânia após bombardeios em Sudzha

Mais de cem pessoas foram evacuadas enquanto Moscou intensifica esforços para recuperar territórios antes de negociar a paz

Nos últimos dias, mais de cem civis russos, muitos deles gravemente feridos, foram evacuados para a Ucrânia, em um movimento dramático enquanto o presidente Vladimir Putin intensifica os esforços para recuperar o território russo antes de qualquer possibilidade de negociações de paz. As informações são do Washington Post (WP).

A maioria dos civis cruzou a fronteira em evacuações noturnas após um ataque em 1º de fevereiro no principal abrigo antiaéreo da cidade de Sudzha, que deixou pelo menos cinco mortos e vários outros soterrados sob os escombros. A evacuação foi uma operação de alto risco, com muitos civis, especialmente idosos, deixando a Rússia com apenas as roupas do corpo. Eles se amontoaram em veículos civis e militares ucranianos, viajando sem faróis por estradas secundárias, a fim de evitar a detecção por drones russos armados.

Trabalhadores humanitários da Cruz Vermelha local estavam prontos dentro da Ucrânia para receber os evacuações, transportando-os rapidamente para hospitais e abrigos temporários em vilarejos frequentemente bombardeados. Nos dias seguintes, outros russos feridos em ataques mais recentes também chegaram à Ucrânia.

Soldados ucranianos capturam um tanque T-90M Proryv na região de Kursk (Foto: WikiCommons)

Este movimento de evacuação transfronteiriça marca o maior número de civis russos sendo retirados desde a ofensiva surpresa da Ucrânia em agosto do ano passado, quando o exército ucraniano invadiu a região de Kursk, no oeste da Rússia, tomando centenas de quilômetros quadrados na tentativa de trocar essas áreas por terras ucranianas ocupadas.

Kiev alega que o abrigo atingido em 1º de fevereiro foi bombardeado por uma bomba planadora russa, enquanto Moscou afirma que se tratou de um míssil ucraniano. A Ucrânia, no entanto, enfrenta dificuldades para proteger seu território de tais ataques, já que suas defesas aéreas são insuficientes.

Repórteres do WP entrevistaram mais de 40 civis russos que buscaram refúgio na Ucrânia. Muitos desses civis sobreviveram a meses de bombardeios enquanto Putin tenta retomar o controle da região, mesmo com a mobilização de milhares de soldados norte-coreanos para apoiar seus esforços.

Milhares de russos permanecem em áreas que a Ucrânia ocupou após a ofensiva, incapazes de retornar à Rússia devido à falta de um acordo para a criação de um corredor humanitário entre os dois países. Em vez disso, grupos menores de russos, incluindo crianças, doentes e feridos, foram evacuados para a Ucrânia e depois enviados para a Rússia através de Belarus, com arranjos semelhantes sendo planejados para os últimos evacuados.

A situação é marcada pela crítica constante da Ucrânia à Rússia, que tem evacuado civis ucranianos para o seu território, incluindo crianças que foram enviadas para acampamentos ou desapareceram no sistema de adoção russo. Além disso, milhares de ucranianos continuam desaparecidos em prisões russas.

As autoridades russas não responderam a questionamentos sobre as evacuações mais recentes. Já os repórteres do WP encontraram civis russos evacuados em hospitais e abrigos organizados por autoridades ucranianas, onde conversaram com alguns evacuados que temiam repercussões caso suas identidades fossem reveladas. Alguns se recusaram a falar, mas outros compartilharam suas experiências sob a condição de serem identificados apenas pelos primeiros nomes.

A administração militar local explicou que os civis russos são livres para sair, mas a maioria optou por ficar devido à falta de opções de destino. Alguns, no entanto, já foram para casa de parentes ucranianos ou foram acompanhados por tropas ucranianas para visitar familiares feridos em ataques.

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