Isolada por sanções, Rússia recorre à Coreia do Norte para equipar suas tropas

Moscou sofre com comércio restrito e busca fornecedores alternativos para obter mísseis, drones e outros itens militares

Cada vez mais isolada globalmente, vítima das sanções impostas pelo Ocidente, a Rússia tem recorrido à Coreia do Norte em busca de equipamento militar capaz de manter suas forças armadas ativas na guerra em andamento na Ucrânia. A informação consta de um relatório da Inteligência dos EUA, de acordo com o jornal The New York Times.

Inicialmente, o documento sugere que Moscou negociou com o país asiático a compra de projéteis de artilharia e mísseis, com planos de ampliar o negócio para outros suprimentos militares. Não há detalhes precisos sobre a quantidade de itens ou mesmo os modelos de armamento adquiridos. No entanto, uma autoridade norte-americana afirmou que na lista de compras se destacam mísseis de curto alcance.

As sanções ocidentais não impedem a Rússia de importar apenas itens de uso militar direto. Elas também limitaram o acesso de Moscou a artigos eletrônicos cruciais para a fabricação de armamento de última geração, como mísseis de cruzeiro de alta precisão, destaque no arsenal russo.

Blindados das forças armadas da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)

Mesmo a China, aliada da Rússia e à primeira vista uma opção segura para fornecer artigos de uso militar, tem se recusado a negociar. Isso porque Washington já deixou claro que as empresas chinesas seriam punidas caso rompessem as sanções focadas na cadeia de suprimentos militares.

No caso da Coreia do Norte, essa preocupação não existe porque o país já é sancionada pelo governo norte-americano, estando assim isolado comercialmente. Ou seja, não tem nada a perder ao negociar. O mesmo vale para o Irã, que recentemente firmou acordos para fornecer drones às forças armadas russas e viu quatro empresas do país serem sancionadas por isso.

Escassez de armas

Os itens exportados por Pyongyang, essencialmente artigos simples e de primeira necessidade, sugerem uma situação bastante delicada nas forças armadas russas. Frederick W. Kagan, especialista militar do think tank American Enterprise Institute, diz que a lista de compras não engloba tecnologia avançada, como microchips usados para fabricar mísseis de cruzeiro. Ou seja, é possível que a Rússia venha encontrando dificuldade inclusive para produzir material militar básico.

“A única razão pela qual o Kremlin deveria comprar projéteis de artilharia ou foguetes da Coreia do Norte ou de qualquer outra pessoa é porque Putin não quis ou não conseguiu mobilizar a economia russa para a guerra, mesmo no nível mais básico”, disse Kagan.

No que depender da Coreia do Norte, a relação comercial será ampliada. Recentemente, o presidente Kim Jong-un ofereceu trabalhadores da construção civil de seu país para que ajudassem a reconstruir as cidades ucranianas ocupadas por Moscou e destruídas pela guerra, segundo a agência Associated Press.

Entretanto, seja no fornecimento de armas ou de mão de obra, o acordo entre Moscou e Pyongyang desrespeitam resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas). Uma delas proíbe o país asiático de exportar ou importar armas, e outra exigia dos Estados-Membros que todos os trabalhadores norte-coreanos fossem repatriados até 2019. As punições estão ligadas ao programa nuclear de Kim Jong-un.

Mísseis desperdiçados

Consciente das dificuldades da Rússia de obter armas de ultima geração, Kiev adotou uma inteligente e peculiar estratégia para enganar as tropas russas e forçá-las a desperdiçar seus caros mísseis de cruzeiro de longo alcance. A ideia consiste em posicionar no campo de batalhas reproduções fajutas do Sistema de Artilharia de Foguetes de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês), que os EUA repassaram a Kiev em junho e desde então tem sido o protagonista do arsenal ucraniano.

Feitas de madeira, as iscas geralmente são confundidas com armamento real pelos drones russos que transmitem a localização às equipes de artilharia. Autoridades ucranianas confirmam a estratégia e afirmam que ao menos dez mísseis Kalibr russos foram desperdiçados nesses alvos de mentira. O sucesso da estratégia, inclusive, levou Kiev a aumentar a produção dos falsos Himars, segundo o jornal The Washington Post.

Tal estratégia de Kiev pode ajudar a explicar as estatísticas exageradas de Moscou sobre a quantidade de armamento ocidental que seus mísseis destruíram até agora. Em particular os Himars, que se tornaram um grande problema para os russos. “Eles (Rússia) alegaram ter atingido mais Himars do que enviamos”, afirmou um diplomata norte-americano.

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