A Geórgia atravessa um período de intensos protestos e instabilidade política, com a presidente Salome Zourabichvili e o governo liderado pelo partido Sonho Georgiano em rota de colisão sobre os rumos do país. Nesta segunda-feira (2), ela pediu aos países europeus que enfrentassem o que definiu como uma tentativa da Rússia de estabelecer domínio sobre sua nação. As informações são da Reuters.
A suspensão das negociações de adesão à União Europeia (UE), anunciada recentemente pelo governo, desencadeou uma onda de manifestações populares e atraiu críticas tanto de opositores internos quanto da comunidade internacional.
Na semana passada, o governo decidiu interromper as tratativas para ingressar na União Europeia, justificando a medida como uma forma de proteger a Geórgia de interferências externas e evitar possíveis conflitos com Moscou. No entanto, críticos veem a decisão como um afastamento das políticas pró-ocidentais e um retorno à esfera de influência do Kremlin, uma acusação que o partido no poder nega.
Em resposta, Zourabichvili, cujos poderes são em grande parte cerimoniais, acusou a Rússia de conduzir uma “estratégia híbrida” contra a Geórgia, com o objetivo de minar sua soberania e redirecionar seu futuro político. “Queremos que nosso destino europeu nos seja devolvido”, afirmou a presidente, que chegou a se juntar pessoalmente aos manifestantes durante os confrontos com a polícia em Tbilisi.
Os protestos nas ruas da capital chegaram à quarta noite consecutiva, com milhares de pessoas exigindo a retomada das negociações com a UE. Os manifestantes, incluindo jovens, ativistas e figuras públicas, denunciaram o uso excessivo de força policial, que empregou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar a multidão. Segundo o Ministério do Interior, mais de 100 policiais e manifestantes ficaram feridos desde o início dos confrontos.
O clima de repressão levou a um aumento da tensão. Dezenas de manifestantes relataram abusos durante as prisões, enquanto a oposição acusou o governo de atacar os princípios democráticos do país. Organizações internacionais, como a União Europeia e os Estados Unidos, expressaram preocupação com o que chamaram de “retrocesso democrático” na Geórgia.
O episódio revelou divisões profundas dentro do país e reacendeu o debate sobre a influência russa na região. Enquanto Zourabichvili faz apelos diretos à Europa por apoio moral e político, o governo, por sua vez, acusa a oposição de incitar a violência para desestabilizar a ordem constitucional.
Além das ruas, o descontentamento chegou às instituições: centenas de diplomatas e funcionários públicos assinaram cartas abertas em protesto, e pelo menos quatro embaixadores renunciaram a seus cargos.
A crise ocorre em um momento crítico para a Geórgia, que busca se posicionar entre a Europa e a Rússia em um contexto geopolítico tenso. A presidente, que encerra seu mandato ainda este mês, afirma que não deixará o cargo enquanto um novo parlamento, cujas eleições foram contestadas pela oposição, não for formado.
A situação na Geórgia tem sido tensa devido à influência russa na região. A Rússia tem mantido uma presença militar significativa na Ossétia do Sul e na Abecásia, duas regiões que se separaram da Geórgia após conflitos nos anos 1990 e 2008. Essas áreas são reconhecidas pela Rússia como estados independentes, mas a comunidade internacional, incluindo a Geórgia, considera-as como territórios ocupados.