A Ucrânia está sentada sobre um tesouro subterrâneo avaliado em US$ 11,5 trilhões: um vasto conjunto de minerais críticos essenciais para setores como defesa, eletrônicos e energia renovável. No entanto, a combinação de incerteza geológica e uma guerra em curso impede que esses recursos sejam aproveitados, como almeja o presidente norte-americano Donald Trump. As informações são do jornal Financial Times.
Ao assumir o poder, uma das primeira manifestações do presidente dos EUA foi reivindicar parte das reservas minerais ucranianas como retribuição pelos mais de US$ 62 bilhões fornecidos a Kiev desde o início da guerra contra a Rússia. A sugestão não foi bem recebida pelo líder ucraniano Volodymyr Zelensky, que atrelou qualquer acordo nesse sentido a garantias firmes de segurança pós-guerra. Mas a manifestação de Trump bastou para direcionar as atenções globais para a riqueza escondida sob o solo do país devastado.
Embora o próprio governo ucraniano faça promessas sobre o potencial dessas reservas, especialistas alertam que a exploração real desses minerais ainda está distante. “Os dados não são modernos, temos muito pouca informação sobre o que realmente está lá”, afirmou Gracelin Baskaran, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Grande parte das estimativas ainda se baseia em levantamentos da época soviética, sem uma avaliação geológica moderna.
A situação se agrava pelo fato de que cerca de 20% das reservas minerais conhecidas do país estão em territórios ocupados pela Rússia. Isso inclui depósitos estratégicos de terras raras na região de Donetsk, uma área de intenso conflito desde 2014. A incerteza sobre o acesso a esses recursos faz com que investidores hesitem em apostar na mineração ucraniana.

Entre os minerais mais valiosos, a Ucrânia abriga reservas expressivas de lítio, elemento essencial para a produção de baterias. As jazidas conhecidas cobrem cerca de 820 quilômetros quadrados, mas nenhuma está em exploração. Empresas estrangeiras já tentaram entrar nesse mercado: a australiana Critical Metals Corp adquiriu licenças para duas grandes reservas em 2021, pouco antes da invasão russa. Uma delas, o depósito Shevchenko, caiu sob ocupação russa e foi considerada “perdida para sempre” por Tony Sage, presidente da companhia.
O titânio também é um dos alvos de disputa. Utilizado na fabricação de aeronaves, mísseis e navios, o metal é visto como estratégico por potências militares. O primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal chegou a sugerir que a Ucrânia poderia substituir a Rússia como fornecedora para a Europa, mas apenas 10% das reservas conhecidas estão sendo desenvolvidas.
Além disso, elementos como escândio e zircônio, usados na indústria aeroespacial, e níobio, essencial para tecnologia de supercondutores, fazem parte do catálogo de riquezas ucranianas. No entanto, os obstáculos para a exploração são imensos. A burocracia governamental é complexa, a regulação do setor de mineração é considerada deficiente e há um histórico de falta de transparência nos contratos.
Mesmo empresas que já operam na Ucrânia enfrentam desafios. A suíça Ferrexpo, uma das principais produtoras de minério de ferro do país, sofre com restrições de investimento e dificuldades logísticas causadas pelo conflito. A Volt Resources, listada na Austrália, suspendeu suas atividades de mineração de grafite no fim do ano passado devido às condições adversas.
Há também uma questão de segurança energética. As constantes ofensivas russas contra a infraestrutura da Ucrânia forçaram algumas operações mineradoras a depender de geradores, elevando os custos de produção e transporte. Jack Bedder, fundador do grupo de inteligência de mercado Project Blue, alerta que isso afasta investidores. “O futuro da mineração na Ucrânia é altamente incerto”, disse ele.
Ainda assim, o governo ucraniano tenta atrair parcerias internacionais. A agência geológica do país afirma que cerca de cem áreas estão sendo preparadas para concessões conjuntas, mas os detalhes são escassos. A falta de dados confiáveis e a instabilidade política dificultam a formulação de um plano concreto para explorar essa riqueza.
Sem uma modernização da base de dados geológica e uma solução para o conflito, os minerais da Ucrânia continuarão sendo uma promessa distante. Investidores aguardam não apenas o fim da guerra, mas também uma definição clara sobre quem realmente controlará esses recursos no futuro.