Enviado da ONU alerta para o risco de uma nova guerra explodir na Europa

Crise política na Bósnia e Herzegovina, desde 1995 dividida em duas entidades diferentes, leva cidadãos a falar em conflito

Em meio à tensão crescente e a um impasse político de meses, é cada vez maior o temor de que um novo conflito exploda na Europa. No caso, na Bósnia e Herzegovina. O alerta foi feito pelo enviado da ONU (Organização das Nações Unidas) ao país, o alemão Christian Schmidt, que se dirigiu na quarta-feira (11) ao Conselho de Segurança.

Schmidt afirmou que, mais de 26 anos após a assinatura do Acordo de Dayton, que encerrou a Guerra da Bósnia, em 1995, os cidadãos bósnios voltam a falar sobre a possibilidade de guerra. “O conflito na Ucrânia, não tão distante, é um lembrete sério de que, mesmo no século 21, outra guerra em solo europeu não é uma impossibilidade”, enfatizou.

O Acordo de Dayton acabou por dividir o país em duas entidades políticas independentes: a Federação da Bósnia e Herzegovina, dominada por Bosniaks (muçulmanos) e croatas, e a República Srpska, controlada por sérvios étnicos.

Delineando os principais desafios do país atualmente, Schmidt disse que as autoridades da República Srpska adotam cada vez mais retórica e ações que podem minar a estrutura constitucional. Entre as ações citadas por ele estão tentativas de tornar as leis nacionais inaplicáveis, o que provavelmente significaria a retirada da República das forças unificadas do país.

Sefik Dzaferovic, membro bósnio da presidência da Bósnia e Herzegovina (Foto: Wikimedia Commons)

Enfatizando que tais mudanças constitucionais não podem ser feitas unilateralmente, pois ameaçariam a integridade territorial da Bósnia e Herzegovina, Schmidt salientou que a comunidade internacional tem a responsabilidade de defender o Acordo de Dayton e os direitos dos três povos constituintes do país, sérvios, Bosniaks e croatas.

O alto representante elogiou o apoio internacional à unidade da Bósnia e Herzegovina, inclusive através de sanções específicas impostas por muitos governos. “Não vamos ficar parados enquanto outros procuram desmantelar 26 anos de paz, estabilidade e progresso”, disse.

Voltando-se para a potencial adesão do país à União Europeia (UE), que ajudaria a resolver queixas e promover a paz e a estabilidade, ele instou o bloco a manter suas portas abertas para a Bósnia e Herzegovina e o resto das nações dos Balcãs Ocidentais.

Enquanto isso, segundo ele, é importante seguir as recomendações do Conselho Europeu antes da adesão, pois ajudaria a resolver queixas e promover uma paz e estabilidade duradouras. Também ajudaria a conter o fluxo cada vez maior de jovens para fora do país e proporcionaria esperança de um futuro melhor, segundo ele.

Ameaças secessionistas

Sefik Dzaferovic, membro bósnio da presidência da Bósnia e Herzegovina, juntou-se à reunião do Conselho em nome do seu país. Classificando o relatório do representante da ONU como “objetivo”, ele concordou que há mais de dez meses seu país está em profunda crise política causada pelas ameaças secessionistas, bloqueio de instituições e outras ações da República Srpska.

Observando que a Bósnia e Herzegovina carece de um mecanismo totalmente desenvolvido para impedir tais atividades secessionistas, ele pediu total apoio da comunidade internacional e disse que seu país sente “as fortes consequências da agressão à Ucrânia”.

Manifestações contrárias

As palavras de Schmidt foram contestadas por Moscou e Beijing, dois países aliados da Sérvia, que por sua vez tem interesse direto no desenvolvimento dos eventos na nação vizinha. Os representantes russo e chinês alegaram que o enviado da ONU foi tendencioso, posicionando-se em favor da Federação da Bósnia e Herzegovina e contra a República Srpska.

Anna M. Evstigneeva, a delegada da Rússia, disse que Schmidt é um cidadão alemão cuja nomeação nunca foi autorizada pelo Conselho de Segurança. Já o representante da China, Dai Bing, disse que, embora a situação na Bósnia e Herzegovina apresente um impasse profundo, todos os membros da sociedade, incluindo a República Srpska, prometeram defender a soberania nacional e a integridade territorial.

Descrevendo o sistema do alto representante como uma relíquia de outra época, Dai declarou que “escolher o lado por forças externas não ajudará a resolver diferenças entre grupos étnicos”. E alertou contra a imposição de sanções unilaterais, enfatizando os sérios impactos humanitários que o conflito na Ucrânia está causando na segurança alimentar, bem como os desafios persistentes causados pela pandemia de Covid-19.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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