EUA sugerem tropas de Brasil e China para pacificar a Ucrânia, mas Beijing adota cautela

Envio da força de paz ao território ucraniano dependeria de um cessar-fogo, mas proposta enfrenta resistência sobretudo da Rússia

Beijing evitou um posicionamento direto sobre a possibilidade de enviar tropas que atuariam como um força de paz na Ucrânia, sugestão de autoridades de Washington que também inclui forças brasileiras caso um cessar-fogo seja alcançado. A proposta gerou críticas e levantou questionamentos sobre o papel da China no conflito. As informações são da Newsweek.

Essas forças poderiam ser posicionadas ao longo de uma eventual linha de cessar-fogo, atuando como uma zona de proteção. O Ministério das Relações Exteriores chinês classificou a ideia como “hipotética” e reafirmou sua posição neutra no conflito. “A China sempre mantém uma posição justa sobre a crise na Ucrânia, e deixamos isso bem claro em diversas ocasiões”, afirmou o porta-voz Guo Jiakun.

A sugestão de tropas de paz chinesas e brasileiras foi mencionada em uma reportagem do The Economist, segundo a qual autoridades dos EUA discutiram a possibilidade de essas forças ficarem posicionadas ao longo de uma eventual linha de cessar-fogo, em vez de tropas europeias. O relatório também citou o vice-presidente americano, JD Vance, argumentando que uma força composta exclusivamente por europeus teria menos eficácia em conter novas investidas russas contra Kiev.

Em 2021, a ONU inspecionou tropas brasileiras para possível participação em missões de paz (Foto: WikiCommons)

Um contingente de forças de paz do Brasil ou da China poderia complementar militares europeus, como os da França, que propuseram uma missão de apoio à Ucrânia longe da linha de frente. No entanto, como a Rússia se opõe à presença de tropas estrangeiras no país, a administração de Donald Trump teria que pressionar Vladimir Putin a aceitar concessões, segundo The Economist.

O Reino Unido e a Suécia demonstraram disposição para enviar tropas de manutenção da paz à Ucrânia após um acordo de paz, segundo a agência de notícias ucraniana RBC-Ukraine. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que o país está pronto para garantir a implementação do tratado, mesmo diante dos riscos para seus soldados. Já a ministra das Relações Exteriores sueca, Maria Malmer Stenergard, declarou que o país considera contribuir para a manutenção de uma paz sustentável, enviando tropas caso seja necessário.

Críticas e reações

A proposta foi recebida com ceticismo e críticas, principalmente nas redes sociais. Branislav Slantchev, professor de ciência política na Universidade da Califórnia em San Diego, ridicularizou a ideia: “Esses idiotas estão realmente debatendo forças de paz da China, Índia e Bangladesh na Ucrânia?”, publicou no X.

Sari Arho Havrén, especialista em relações exteriores da China, também demonstrou ceticismo. Ela destacou que a China e a Rússia mantêm estreita cooperação militar e econômica e classificou a ideia de tropas chinesas na Ucrânia como “raposa no galinheiro”.

China reforça discurso de neutralidade

Em resposta às reações negativas, Beijing reafirmou que não está diretamente envolvida no conflito e ressaltou seu histórico diplomático. “A China não é a criadora da crise na Ucrânia nem é parte dela”, disse Guo Jiakun, acrescentando que o país tem buscado soluções diplomáticas desde o início da guerra.

Ele mencionou ainda o envolvimento da China na criação do grupo “Amigos pela Paz”, ao lado do Brasil e outras nações do Sul Global, como parte dos esforços para promover uma solução negociada. “A evolução da situação prova que nossa proposta é objetiva, imparcial e pragmática”, afirmou.

Futuro incerto das negociações de paz

Até o momento, não há clareza sobre quando um cessar-fogo poderá ser alcançado na Ucrânia, nem se a sugestão de forças de paz chinesas e brasileiras será considerada viável pelas partes envolvidas. O debate sobre a participação de Beijing no processo de paz, no entanto, já se tornou mais um ponto de tensão na geopolítica internacional.

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