Ex-presidente russo sugere ocupação das ‘terras ucranianas restantes’ após cessar-fogo

Dmitry Medvedev diz que a Rússia só aceitará um acordo de paz caso a Ucrânia se renda e entregue o país integralmente

Na quarta-feira (10), Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia, afirmou que Moscou planeja ocupar as partes restantes da Ucrânia, mesmo que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky concorde com as últimas condições propostas pelo Kremlin para um cessar-fogo. As informações são da Newsweek.

Medvedev, atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança russo, reafirmou que a Rússia não aceitará nenhum acordo de paz negociado com Kiev, a menos que a Ucrânia capitule completamente, seu Estado seja destruído e o país seja totalmente ocupado. Essas declarações foram citadas pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), um think tank dos EUA, em sua análise recente sobre o conflito em território ucraniano.

Desde que o presidente russo Vladimir Putin iniciou uma invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, a possibilidade de negociações de paz entre Kiev e Moscou tem sido discutida repetidamente.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, dezembro de 2019 (Foto: Dmitry Astakhov/WikiCommons)

Em sua proposta feita em 14 de junho, o Kremlin delineou condições que a Rússia considera como não negociáveis, exigindo que Kiev aceite a anexação das regiões de territórios ocupados no leste e sul do país, após referendos convocados por Putin em setembro de 2022, que foram considerados ilegais internacionalmente.

Putin declarou que Moscou só cessaria sua ofensiva se Kiev se rendesse, retirasse suas tropas do leste dos quatro territórios ocupados pela Rússia – Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia –, abandonasse a candidatura à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e reconhecesse a anexação da Crimeia. Zelensky reagiu comparando as ambições de Putin ao expansionismo de Hitler antes da Segunda Guerra Mundial, afirmando que as mensagens de ultimato do russo são similares às do passado e “não são dignas de confiança”.

O secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, afirmou à época que Putin ocupou ilegalmente território ucraniano e “não tem o direito de ditar os termos para a paz”. Austin também declarou que o líder russo poderia encerrar o conflito imediatamente se quisesse, e pediu que ele deixasse o “território soberano” da Ucrânia.

Em uma postagem feita em seu canal no Telegram, Medvedev afirmou que mesmo se Zelensky concordar com as condições mais recentes de Putin para a paz, isso não significará o término da operação militar russa na Ucrânia.

Medvedev escreveu que a Rússia eventualmente reintegrará “as terras [ucranianas] restantes ao território russo”. Ele possivelmente estava fazendo referência a Stepan Bandera, um ultranacionalista ucraniano que colaborou com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, fundando o Exército Nacional Ucraniano, que combateu a União Soviética.

De acordo com o ISW, a postagem sugere que o Kremlin acredita que a conquista completa da Ucrânia será facilitada se Kiev aceitar acordos de cessar-fogo e concessões muito impopulares neste estágio da guerra. Isso poderia levar à pressão da sociedade ucraniana por uma mudança de governo que pudesse ser vantajosa para o o governo russo, analisou o think tank.

O economista político russo Konstantin Sonin, da Universidade de Chicago, comentou que a afirmação de Medvedev de que a Rússia persistirá na guerra até a “destruição completa de qualquer Ucrânia independente” é sem sentido, pois contradiz diretamente a posição pública declarada por Putin sobre o tema.

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