General contradiz Putin e diz que armas russas estão defasadas em relação às da Otan

Ex-chefe do Estado-Maior destaca 'superioridade' da artilharia da aliança e diz que Moscou precisa investir se quiser ir à guerra

O arsenal militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é mais moderno que o de Moscou, cujo atraso “significativo” da artilharia precisa ser contornado caso o país venha a enfrentar a aliança em uma guerra. A avaliação, que contradiz o presidente Vladimir Putin, é do general russo Yuri Baluyevsky, que entre 2004 e 2007 foi chefe do Estado-Maior Geral das Forças Armadas da Rússia.

De acordo com a revista Newsweek, Baluyevsky escreveu o prefácio de um livro com artigos científicos militares, cujo título, em tradução livre, é “Algoritmos de Fogo e Aço”. Nele, o militar comparou os armamentos à disposição de Rússia e Otan e não deixou margem à dúvida, dizendo que a aliança militar transatlântica está à frente em termos de modernidade dos arsenais.

“A superioridade qualitativa da artilharia da Otan é evidente devido à transição para canhões de 155 mm com comprimento de cano de calibre 52 e, no futuro, para calibres de 58 a 60, e ao desenvolvimento de projéteis de longo alcance de 155 mm”, diz Baluyevsky no texto.

Tanque de guerra do Exército russo durante manobra militar (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Segundo ele, o atraso “significativo” das armas russas ficou evidente na guerra da Ucrânia, forçando o país a investir futuramente na modernização da artilharia e de seu sistema de mísseis.

Na rede social X, antigo Twitter, o analista Samuel Bendett, especialista em tecnologia militar russa, afirmou que a avaliação feita por Baluyevsky é correta, mas não é novidade nem mesmo para Moscou.

“Não há surpresas reais aqui, e nada que já não tenha sido dito antes por comentaristas e especialistas militares russos”, afirmou Bendett, que no passado trabalhou para o Departamento de Defesa do governo norte-americano.

O que chama a atenção na avaliação de Baluyevsky é o fato de ela desmentir Putin, que recentemente disse o contrário à população russa. Assim, evidencia a propaganda do Kremlin, que tenta transmitir uma ideia diferente aos cidadãos, que convivem com a ameaça de um conflito direto com a Otan conforme assistem ao desenrolar do conflito na Ucrânia, sem uma perspectiva de vitória de Moscou.

No dia 2 de fevereiro, durante um fórum militar realizado em Moscou, batizado “Tudo pela Vitória”, Putin exaltou os avanços tecnológicos conquistados por suas Força Armadas e tratou de alimentar o otimismo russo.

“Se você comparar as armas modernas da Otan e as armas do último período dos tempos soviéticos, as nossas são inferiores em alguns aspectos, embora nem sempre. Mas, se você pegar nossas armas mais recentes, elas são claramente superiores a todas”, disse o presidente no evento, segundo a agência estatal de notícias RIA Novosti.

No mesmo fórum, Putin destacou o ritmo acelerado de trabalho da indústria de Defesa da Rússia, que ajuda a compensar as perdas econômicas decorrentes da guerra e das duras sanções impostas pelo Ocidente.

Segundo o presidente, 520 mil empregos foram criados devido à necessidade de produzir mais armas para alimentar a máquina de guerra russa.

“Os funcionários das empresas de Defesa estão fornecendo toda a gama de armas, incluindo veículos blindados, tecnologia de mísseis e armas de alta precisão, no ritmo acelerado exigido pelo país”, afirmou. “Também trabalhamos pensando em resolver questões sociais.”

Estoques de armas comprometidos

Os indícios de que Moscou enfrenta dificuldades com seu arsenal têm se acumulado. Nos últimos dias, analistas de código aberto usaram imagens de satélite para mostrar que a Rússia tirou de seus armazéns militares uma grande quantidade de peças de artilharia, indício de que equipamentos estocados são cada vez mais adotados em substituição àqueles danificados no campo de batalhas.

As forças russas chegaram a usar equipamento antigo ou inadequado para repor peças mais modernas perdidas. Por exemplo, foram identificados canhões dos tempos da Segunda Guerra Mundial instalados no lugar de outros mais novos, e peças com finalidades distintas foram adaptadas em equipamentos de artilharia.

No entanto, um dos analistas, que responde pelo pseudônimo High_Marsed, concluiu que é impossível projetar o tamanho do impacto que os problemas com o armamento pode ter para as tropas de Moscou. “É razoável dizer que a guerra está esgotando as bases de armazenamento”, disse ele. “Mas não tenho ideia de quanto tempo levará até que estejam vazias ou até vermos efeitos na linha da frente.”

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