Itamaraty confirma morte de combatente brasileiro que lutava com as tropas da Ucrânia

Morte de André Hack Bahi foi informada por outros voluntários no final de semana, mas até então carecia de confirmação oficial

O brasileiro André Hack Bahi, de 43 anos, que combatia ao lado das forças estrangeiras na Ucrânia, morreu no último domingo (5) em um ataque das tropas russas na cidade de Syevyerodonetsk, leste do país. A informação, divulgada no final de semana por colegas dele, também voluntários, através das redes sociais, foi confirmada oficialmente nesta quinta-feira (9) pelo Itamaraty.

“O Ministério das Relações Exteriores recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, confirmação do falecimento de nacional brasileiro em território ucraniano em decorrência do conflito naquele país e mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”, disse a pasta em comunicado.

Da esquerda para a direita: os brasileiros Leanderson Paulino, André Kirvaitis e André Hack, voluntários na guerra na Ucrânia (Foto: reprodução/Instagram)

No texto, o ministério voltou a se manifestar contra a ida de brasileiros à Ucrânia, sem citar especificamente o fato de que alguns deles viajam para integrar as forças estrangeiras no conflito. “Assim como tem feito desde o começo do conflito, o Itamaraty continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país”.

De acordo com o portal Uol, uma das irmãs de André, Letícia Hack Bahi, também confirmou a informação da morte do combatente. Ela diz que o comandante da unidade do brasileiro gravou um áudio no qual informa que André morreu atingido por tiros disparados por tropas russas.

Homenagens de amigos

Um dos amigos que havia anunciado a morte, na segunda-feira (6), foi André Kirvaitis, brasileiro que também combate voluntariamente na Ucrânia.

“Mais um soldado ânimo (SIC, anônimo), que como outros deu a vida em combate pela liberdade e pela paz, eu não vou deixar seu nome ser esquecido”, disse ele em sua conta no Instagram. “Obrigado por ter salvado a minha vida em Irpin… e me perdoe por não estar ao seu lado nessa última missão… a guerra é o inferno”.

Outro voluntário a informar a morte do brasileiro foi um combatente peruano que diz atuar na Ucrânia. “Descansa irmão legionário Andre Hack”, disse ele em sua conta no Twitter, na qual habitualmente exibe fotos em ação na guerra.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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