A proposta da Comissão Europeia de proibir as importações de gás natural liquefeito (GNL) da Rússia está empacada diante da oposição de dois dos principais compradores. França e Bélgica disseram ao site Politico que não pretendem apoiar a medida antes de receberem garantias econômicas e jurídicas mais sólidas sobre os impactos do veto.
Juntos, França e Bélgica foram responsáveis pela compra de mais da metade do GNL exportado globalmente pela Rússia em 2023, somando 16,77 milhões de toneladas. O gasto total ultrapassou 6 bilhões de euros. A proposta da União Europeia (UE) prevê o fim das compras pontuais ainda neste ano e o encerramento de contratos de longo prazo até 2027.
A França, maior importadora do bloco, diz preferir a substituição gradual dos contratos por fontes alternativas, como o Catar. “O que estamos defendendo é uma estratégia europeia de diversificação, que já está na mesa”, declarou o ministro francês da Energia, Marc Ferracci. Ele também alertou que “uma proibição em nível europeu significa que ninguém pode importar GNL russo”.

Ferracci expressou preocupação com os riscos legais envolvidos, mencionando contratos em vigor com a produtora russa Novatek até 2032 e a participação da francesa TotalEnergies no projeto Yamal, na Sibéria. “O estoque de contratos existentes precisa estar legalmente protegido”, afirmou.
A Bélgica, segundo maior importadora do bloco, adotou postura semelhante. O ministro da Energia, Mathieu Bihet, condicionou o apoio ao veto a um estudo completo de impacto, que inclua os efeitos na infraestrutura local de GNL, abastecida com gás russo até 2035.
“Pedimos à Comissão que apresente uma avaliação de impacto aprofundada”, declarou Bihet. “É necessário esperar pelo pacote jurídico para ter uma ideia melhor de todas as implicações para o nosso país.”
Na contramão, Espanha e Holanda — terceiros maiores compradores — declararam apoio imediato à proposta. Ambos têm contratos em vigor até 2042 e 2032, respectivamente, mas dizem estar prontos para uma transição acelerada.
“A Espanha apoia a proposta da Comissão Europeia para banir as importações de gás russo o mais rápido possível, por meio de uma posição comum da UE”, afirmou o Ministério da Transição Ecológica espanhol. A Holanda também confirmou que “continua a apoiar a eliminação completa do gás russo”.
Apesar das divergências, técnicos da Comissão Europeia já preparam um documento com a avaliação dos efeitos econômicos e jurídicos da medida. O objetivo é alcançar um consenso entre os países antes da apresentação formal da proposta no mês que vem.