Mais de 100 oficiais russos executaram seus próprios soldados na Ucrânia

Relatório aponta que os episódios, inicialmente tratados como punições por indisciplina ou consumo de álcool nas trincheiras, acabaram se transformando em execuções movidas por extorsão e conflitos pessoais

Uma investigação conduzida pelo veículo de mídia online russo independente Vyorstka aponta que pelo menos 100 oficiais russos executaram seus próprios soldados na Ucrânia desde o início da invasão em grande escala, em 2022. Segundo a reportagem, os casos começaram como punições por desobediência ou embriaguez nas trincheiras, mas evoluíram para assassinatos motivados por extorsão e disputas pessoais. As informações são do The Moscow Times.

O Vyorstka, rotulado pelo Kremlin como “agente estrangeiro“, afirma ter reunido centenas de relatos sobre essas execuções e identificado 101 militares russos acusados de cometer os crimes. A maioria dos supostos autores seria composta por comandantes de pelotão ou batalhão, e, em alguns casos, oficiais de divisão, com idade média superior a 40 anos.

De acordo com a investigação, muitos dos acusados receberam condecorações oficiais, incluindo cinco que ganharam o título de Herói da Rússia. O número total de vítimas, no entanto, permanece indefinido.

Membros das Forças Armadas da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)

Entre as práticas relatadas estão os chamados “ataques de moer carne”, nos quais tropas são enviadas em massa contra posições inimigas até que os sobreviventes consigam capturá-las – há nas Forças Armadas russas unidades voltadas especialmente a essas missões suicidas, as chamadas Tempestade-Z, compostas pelo que Moscou vê informalmente como soldados de segunda classe. Em alguns episódios, oficiais teriam confiscado os cartões bancários dos soldados e exigido seus códigos PIN “para os parentes”, antes de enviá-los para as ofensivas.

Os soldados executados eram frequentemente registrados como desaparecidos ou desertores, e seus corpos enterrados em florestas ou deixados no campo de batalha, segundo depoimentos de militares russos. O objetivo seria simular mortes em combate e ocultar as execuções.

Desde o início da guerra, o Gabinete do Procurador-Geral das Forças Armadas da Rússia recebeu mais de 12 mil denúncias relacionadas a abusos cometidos por comandantes. Ainda assim, o Vyorstka relata que a maioria dos casos foi ignorada devido a uma proibição não oficial de investigar oficiais de campo. Apenas dez processos criminais foram abertos, e cinco oficiais foram condenados por matar subordinados.

Soldados entrevistados pelo veículo afirmam não confiar no sistema judiciário russo e mencionam a possibilidade de vingança pessoal.

Um entrevistado alertou que a violência pode se espalhar para o território russo, mas disse acreditar que as autoridades “ainda não perceberam isso”.

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