Mulher de político russo diz que rivais enviaram o marido à guerra por vingança

Dmitry Zakharov teria sido recrutado pelo candidato derrotado na eleição local, com apoio do prefeito da cidade onde atua

Um político russo teria sido convocado para lutar na guerra atualmente em curso na Ucrânia por vingança de dois rivais locais. A denúncia foi feita pela mulher do indivíduo recrutado, em entrevista a veículos de imprensa locais. As informações foram reproduzidas pela revista Newsweek.

Dmitry Zakharov teria saído vitorioso nas eleições locais de Novouralsk, realizadas no dia 11 de setembro. O problema é que o adversário derrotado no pleito foi Alexei Verkhoturov, comissário militar da cidade. Então, para dar o troco no rival, o candidato derrotado teria orquestrado a convocação.

Segundo Tatyana Zakharova, mulher de Dmitry e autora da denúncia, ele teve que se apresentar para iniciar a preparação no dia 20 de outubro. Procurado por emissoras de rádio locais para comentar o ocorrido, Verkhoturov se recusou a falar.

Tatyana afirmou ainda que o marido atua em uma área que gera bastante intriga política, o que aumenta a lista de possíveis inimigos. Um deles seria Vladislav Tyumentsev, prefeito de Novouralsk.

“Ele tem o setor mais problemático, que são as áreas rurais. Há um chefe de assentamentos rurais, e eles tiveram um conflito. Então, pense: por que ele foi mobilizado?”, questionou ela.

Em fevereiro deste ano, Dmitry denunciou um esquema de extração ilegal de madeira na região onde vive. Durante a investigação do caso, descobriu também uma mina de ouro ilegal. Cerca de 20 pessoas foram presas, e o desde então o político tornou-se um homem marcado por autoridades locais.

A assessoria de imprensa da filial local do partido de situação Rússia Unida, alinhado com o presidente Vladimir Putin, afirmou que “o deputado Zakharov se apresentou para servir ao exército “sem histeria e conflitos políticos”. Não há informações sobre o paradeiro atual do político.

Membros das forças armadas da Rússia (Foto: Reprodução/Facebook)
Por que isso importa?

Muitos russos não receberam bem a decisão de Putin de convocar cerca de 300 mil cidadãos para reforçar as forças armadas na Ucrânia. A mobilização parcial levou milhares de pessoas a fugir do país, com fronteiras lotadas em países como Geórgia, Mongólia e Cazaquistão. Voos para Armênia, Turquia e Azerbaijão, que não exigem visto de entrada, rapidamente se esgotaram.

Atentas ao problema, as ex-repúblicas soviéticas de LetôniaLituânia e Estônia anunciaram em 19 de setembro, junto da Polônia, a decisão de barrar a maioria dos cidadãos russos que tentassem entrar em seus territórios.

Entre os que ficaram na Rússia, a ideia de aceitar a convocação nunca foi unanimidade, e protestos populares passaram a ser registrados em todos os cantos. Tal movimento não se via desde que a lei foi endurecida para silenciar os dissidentes, em março, quando Moscou passou a punir os cidadãos acusados de “desacreditar o uso das forças armadas”.

Somente na primeira semana que sucedeu o anúncio da mobilização, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão estatal na Rússia, registrou quase 2,5 mil detenções em protestos populares contra a decisão do Kremlin. E o número real tende a ser bem maior, vez que são divulgados apenas os dados referentes a nomes que conseguiu confirmar, com base em listas fornecidas pelas autoridades.

Em todo o país, voltaram a ser comuns as cenas de policiais usando a força para deter manifestantes nas ruas, algo que não vinha acontecendo nos meses anteriores. Na Sibéria, autoridades locais relataram que um oficial de recrutamento foi gravemente ferido a bala por um manifestante que também incendiou o escritório onde atuava o funcionário do governo. Episódio parecido ocorreu na cidade de Uryupinsk, na região de Volgogrado, onde um coquetel molotov atingiu um centro de recrutamento.

Entre os que se apresentaram para servir, mais de cem morreram no campo de batalhas ou durante o treinamento, de acordo com levantamento do jornal independente Novaya Gazeta Europe. As mortes nem sempre ocorreram em combate. Entre as vítimas identificadas, 23 morreram durante a fase de preparação, por causas variadas: doença, acidente, briga, consumo excessivo de álcool e suicídio. Segundo Putin, a mobilização já esta encerrada.

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