Na Rússia, filmes nacionais fracassam e levam os cinemas a investir em pirataria

Com a fuga dos estúdios dos EUA e o baixo faturamento das obras russas, salas apostam em cópias ilegais de superproduções

Após uma fracassada tentativa de valorizar os filmes nacionais e priorizar a exibição dessas obras nos cinemas locais, a Rússia retomou nos últimos dias uma prática que havia sido interrompida: a projeção nas salas de todo o país de versões piratas de grandes produções cinematográficas internacionais. As informações são da rede local RBC.

Desde a invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em 24 de fevereiro de 2022, mais de mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, entre elas os grandes estúdios dos EUA. A Netflix, por exemplo, interrompeu seus serviços e cancelou todos os projetos e aquisições no país, enquanto Warner, Disney e Sony interromperam os lançamentos de suas novas produções.

Sem acesso aos filmes de maior sucesso no mundo, os cinemas da Rússia passaram a investir na pirataria para levar ao público essas produções e faturar com elas. A prática, porém, foi interrompida a partir de 18 de abril, uma tentativa do governo de valorizar as obras nacionais.

Sala de cinema em Moscou, outubro de 2022 (Foto: Svetlov Artem/WikiCommons)

O Comitê de Cultura da Duma do Estado chegou a ameaçar com fechamento as salas que exibissem obras estrangeiras, o que levou os cinemas a acatarem a determinação. A aposta, porém, falhou e foi abandonada em 12 de maio.

A exclusividade sequer bastou para que algumas obras russas pagassem os custos de produção. Por exemplo, a comédia “Como Conheci a Mãe Dela”, que teve orçamento de 150 milhões de rublos (R$ 8,5 milhões), arrecadou apenas 36 milhões de rublos (R$ 2,1 milhões). Já a obra de guerra “Abrigo” custou 426 milhões de rublos (R$ 24 milhões) e faturou somente 105 milhões de rublos (R$ 5,9 milhões).

Para os donos de salas, o prejuízo foi igualmente grande. A rede de cinemas Lumen Film diz que chegou a faturar 4,2 bilhões de rublos (R$ 237,1 milhões) em março com os sucessos internacionais, enquanto o mês de abril, dominado pelos filmes nacionais, rendeu somente 2,3 bilhões de rublos (R$ 129,8 milhões).

“Os feriados de maio, em termos de receitas de bilheteria, também estão abaixo das expectativas: dois grandes fins de semana de quatro dias deveriam ter rendido pelo menos uma vez e meia a duas vezes mais do que o que foi arrecadado até agora”, disse Alexei Voronkov, da Associação Russa de Proprietários de Cinema (AVK, na sigla em russo).

Assim, os exibidores passaram a pressionar o governo, ameaçando boicotar as obras nacionais se não fossem autorizados a dividir o espaço delas com os sucessos estrangeiros. Receberam o aval, mas para isso precisam exibir também um curta-metragem russo durante a sessão.

Chefe da Lumen Film e membro da AVK, Pavel Ponikarovsky reforça a necessidade de manter as obras estrangeiras em cartaz, mesmo que para isso seja preciso recorrer a métodos ilegais. “O conteúdo nacional por si só não é suficiente para que os cinemas funcionem com lucro”, analisou.

Tags: