A Procuradoria da Bósnia-Herzegovina iniciou uma ação judicial contra nove sérvios bósnios acusados do assassinato de cerca de cem bósnios muçulmanos durante a Guerra da Bósnia, que teve início em 1992. Trata-se da mais recente de uma série de acusações de crimes de guerra no país, de acordo com a Radio Free Europe.
Segundo o Ministério Público do país, que emitiu um comunicado oficial na quarta-feira (29), nove ex-integrantes do exército sérvio-bósnio são suspeitos de envolvimento no assassinato de dezenas de mulheres, idosos e crianças com idades entre 2 e 15 anos na área de Nevesinje, localizada no sudeste da atual Bósnia-Herzegovina e hoje dominada pelos sérvios bósnios.
“Os restos mortais de 49 pessoas foram encontrados, enquanto os restos mortais de 47 vítimas ainda estão sendo analisado”, diz o texto oficial, afirmando ainda que os acusados foram presos no dia 16 de dezembro. Integrantes de sete famílias estão entre os mortos.
O anúncio da detenção ocorre em meio a uma campanha da Justiça local que levou a uma série de prisões por crimes de guerra, efetuadas pela Agência de Investigação e Proteção da Bósnia-Herzegovina (SIPA). A acusação foi encaminhada ao Tribunal Estadual da Bósnia-Herzegovina para confirmação, disse o comunicado do Ministério Público.
Por que isso importa?
A Guerra da Bósnia eclodiu após a declaração de independência da Bósnia, em 1992, e se estendeu por três anos. Os ataques da Sérvia, contrária à independência, se ancoraram no conceito de “Grande Sérvia”, que levou a uma limpeza étnica por forças militares e paramilitares sérvias no país vizinho. Durante a campanha, milhares de mulheres e meninas foram vítimas de estupro e outras formas de violência sexual cometidos por militares e paramilitares.
O maior massacre étnico de bósnios muçulmanos ocorreu em julho de 1995, na pequena cidade de Srebrenica, leste da atual Bósnia e Herzegovina. Era considerada uma “zona segura” pela missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), ativa entre 1992 e 1995, após a dissolução da antiga Iugoslávia.
Quando os soldados das forças sérvias-bósnias, lideradas por Ratko Mladic – hoje condenado à prisão perpétua – cercaram Srebrenica, os 370 soldados holandeses da missão de paz não impediram nem a tomada do local, nem a matança de cerca de 8 mil muçulmanos.
O caso é classificado como o pior assassinato em massa na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Tribunais internacionais rotularam o massacre como genocídio, mas as autoridades da Sérvia e da Bósnia se recusam a aceitar a designação.
O conflito terminou com aproximadamente cem mil mortos e foi encerrado com o Acordo de Paz de Dayton, que dividiu o país em duas entidades políticas independentes: a Federação da Bósnia-Herzegovina, a cargo de Bosniaks (bósnios muçulmanos) e de bósnios croatas; e a República Srpska, controlada por sérvios bósnios. A questão étnica não plenamente solucionada ainda gera constante tensão interna no país.