Em Haia por genocídio, ex-líder sérvio ataca ONU e reafirma inocência

Ex-comandante cumpre prisão perpétua desde 2017 por matança na Bósnia durante guerras pós-Iugoslávia

O ex-comandante sérvio na Bósnia, Ratko Mladic, usou os seus 10 minutos de autodefesa na nova acusação de genocídio, nesta quarta (26), para atacar a ONU (Organização das Nações Unidas) e insistir em sua inocência.

Mladic cumpre a pena de prisão perpétua desde 2017. Ele foi condenado por liderar o massacre de oito mil muçulmanos na cidade bósnia de Srebrenica, em 1995. A ação sérvia foi considerada a pior matança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Em sua fala, o ex-oficial afirmou que o tribunal era um “filho da aliança da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”, registrou a BBC.

Em apelo a genocídio, Ratko Mladic ataca a ONU e insiste em inocência
O rosto de Ratko Mladic, pintado por nacionalistas sérvios, e satirizado após acusação, em mural na capital sérvia, Belgrado (Foto: Flickr/David Bailey)

Ele ainda reiterou que não era o culpado por Srebrenica. “Durante a guerra, o destino me colocou em posição de defender meu país contra a máfia ocidental. Ratko Mladic não iniciou a guerra nem fez planos para atacar a Iugoslávia“, pontou à promotora.

A audiência de dois dias terminou na quarta (26) em um tribunal da ONU na cidade de Haia, na Holanda.

A condenação de Mladic saiu há três anos, mas o processo considera os últimos recursos pleiteados pelo acusado junto ao Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia. O juizado deve emitir o veredicto a partir de março de 2021.

Em apelo a genocídio, Ratko Mladic ataca a ONU e insiste em inocência
O ex-general Ratko Mladic durante o seu julgamento, em novembro de 2017, no Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia (Foto: Flickr/UN)

Defesa

Em 1995, a cidade de Srebrenica, no leste da atual Bósnia e Herzegovina, era considerada uma “zona segura”. A missão Uniprofor, instaurada em 1992, dava garantias de segurança do local durante a guerra civil, que começou na sequência da dissolução da antiga Iugoslávia.

No mês de junho, soldados sérvios-bósnios, liderados por Mladic, tomaram a cidade e mataram os muçulmanos em nome de uma “limpeza étnica“. Junto dos líderes sérvios, Radovan Karadzic e Slobodan Milosevic, o objetivo era formar uma “Grande Sérvia” em partes da ex-Iugoslávia.

Em apelo a genocídio, Ratko Mladic ataca a ONU e insiste em inocência
Memorial em homenagem aos muçulmanos mortos no massacre, na Bósnia (Foto: Flickr/Jelle Visser)

Na audiência, um dos advogados de defesa, Dragan Ivetic, negou que Mladic seja o responsável pelo massacre. “Ele era alguém que o tempo todo tentava ajudar a ONU a fazer o trabalho que ela não poderia fazer em Srebrenica em um nível humanitário”, apontou.

O massacre é considerado até hoje como um marco negativo na história da ONU, que mudou parte da estrutura das missões de paz.

Os advogados de Mladic ainda argumentaram que o ex-oficial estava longe de Srebrenica quando os ataques ocorreram. A promotora Laurel Baig, no entanto, afirma que o réu estava encarregado da operação e usou as forças sob seu comando para executar os muçulmanos.

Em apelo a genocídio, Ratko Mladic ataca a ONU e insiste em inocência
Mulheres buscam nomes de parentes mortos no massacre de Srebrenica, no memorial às vítimas do genocídio, em julho de 2008 (Foto: Flickr/Photo RNW)

Mladic ainda é considerado um herói de guerra pelos nacionalistas sérvios. Já as famílias das vítimas do massacre pedem a condenação do ex-oficial.

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