Premiê da Estônia e mais autoridades bálticas entram na lista de procurados da Rússia

Segundo Moscou, a remoção de monumentos em memória dos soldados soviéticos da Segunda Guerra motivou a listagem

O atrito entre a Rússia e as nações bálticas aumentou nos últimos dias. A primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, e outras autoridades do país, bem como da Letônia e da Lituânia, tiveram seus nomes incluídos na lista de criminosos procurados por Moscou, segundo a agência Associated Press (AP).

Embora os nomes já estejam listados há algumas semanas, somente agora a informação se tornou pública. Oficialmente, a acusação russa contra Kallas, a figura mais importante da relação, é a de que ela aprovou a retirada de monumentos da Segunda Guerra Mundial, vistos pelos países como uma memória indesejada do período de ocupação soviética.

Em resposta ao anúncio, a premiê estoniana disse que se trata de uma “tática familiar de intimidação” por parte da Rússia, disposta a silenciá-la pelo apoio vocal e prático que tem oferecido à Ucrânia na guerra contra Moscou. E prometeu que não mudará em nada seu posicionamento devido à pressão política.

Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia, no Parlamento Europeu, em março de 2022 (Foto: Flickr)

“A Rússia pode acreditar que a emissão de um mandado de prisão fictício silenciará a Estônia”, disse ela. “Eu me recuso a ser silenciada. Continuarei apoiando abertamente a Ucrânia e defendendo o fortalecimento das defesas europeias.”

A primeira-ministra ainda lembrou que no passado a família dela já foi vítima direta de ordens judiciais falsas do Estado russo. “Isso me atinge perto de casa: minha avó e minha mãe já foram deportadas para a Sibéria, e foi a KGB quem emitiu os mandados de prisão fabricados.”

Além de Kallas, a lista de procurados conta com outros nomes importantes, entre eles o secretário de Estado da Estônia, Taimar Peterkop, e o ministro da Cultura da Lituânia, Simonas Kairys.

A longa relação tem também os nomes de cerca de 60 parlamentares da Letônia cujos mandatos foram encerrados em novembro de 2022. A Polônia, mais uma país que tem retirado monumentos russos e suas ruas, igualmente tem representantes na lista de procurados.

Outra que contra-atacou verbalmente após o anúncio foi a primeira-ministra da Letônia, Evika Silina. “Declaramos que a Letônia não cederá a tais tentativas de intimidação”, disse ela, de acordo com a agência Reuters.

Já a Lituânia convocou a diplomacia russa para dar explicações. “O Ministério das Relações Exteriores salienta que as decisões da Federação Russa são contrárias às normas universalmente reconhecidas do direito internacional, demonstram esforços para falsificar o passado e desrespeito pela memória histórica da Lituânia”, disse Vilnius em comunicado.

Moscou, por sua vez, alega que a retirada dos monumentos é uma profanação da memória dos militares soviéticos da Segunda Guerra. Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, citou Kallas em particular, dizendo que ela “realizou atos hostis contra o nosso país e a memória histórica.”

Através do aplicativo de mensagens Telegram, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que a inclusão dos nomes na lista de procurados é “apenas o começo” e e que “os crimes contra a memória dos libertadores do mundo do nazismo e do fascismo devem ser processados.”

Trunfo báltico

A medida adotada pelo Kremlin aumenta a tensão na região, inclusive com a alegação, por parte das nações bálticas, de que elas serão invadidas por Moscou em algum momento no futuro, da mesma forma que a Ucrânia foi atacada em 24 de fevereiro de 2022.

Na terça-feira (13), mesmo dia em que a lista de procurados se tornou pública, o Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia reforçou o alerta, dizendo que a Rússia se prepara para um confronto militar com o Ocidente e que são necessárias medidas de dissuasão.

“A Rússia escolheu um caminho que é um confronto de longo prazo”, disse Kaupo Rosin, chefe do órgão de inteligência estoniano, segundo a Reuters. “O Kremlin está provavelmente antecipando um possível conflito com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) dentro da próxima década.”

No entanto, Rosin admitiu que uma agressão é “altamente improvável” a curto prazo, devido ao desgaste militar da Rússia na Ucrânia. E afirmou que a melhor medida a ser adotada neste momento é aumentar o número de tropas nas fronteiras entre os países-membros da Otan e a Rússia, assim como Moscou tem agido ultimamente.

“Se não estivermos preparados, a probabilidade seria muito maior do que sem qualquer preparação”, declarou Rosin sobre a agressão futura.

Para os países bálticos, entretanto, o fato de serem membros da Otan é um importante trunfo. Isso graças ao artigo 5º do estatuto da aliança, segundo o qual os integrantes “concordam que um ataque armado contra um ou mais deles na Europa ou na América do Norte deve ser considerado um ataque contra todos eles.” Isso tornaria uma eventual agressão russa um ataque contra os EUA e seus aliados.

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