Alemanha e Estônia reforçam alerta sobre possível ataque da Rússia à Otan

Documento secreto do Ministério da Defesa alemão relata como seria a ação militar de Moscou, projetada para ocorrer já em 2024

Na semana passada, o governo da Suécia admitiu que vem alertando seus cidadãos para a possibilidade de um ataque por parte da Rússia. De acordo com o jornal Bild, a Alemanha também trabalha com a hipótese de entrar em guerra com Moscou, o que poderia se materializar ainda em 2024. Os alertas das duas nações não chegam a ser novidade, mas se somam a outros feitos anteriormente e mantêm a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de prontidão.

O periódico alemão cita um documento secreto do Ministério da Defesa do país europeu que descreve todas as manobras russas até o ataque ao flanco oriental da aliança militar transatlântica. O primeiro passo seria intensificar as ações na Ucrânia, com o objetivo de conquistar nos primeiros seis meses deste ano vitórias significativas na guerra em curso.

A etapa seguinte seria voltada aos países bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia, inicialmente alvos de ataques cibernéticos inseridos na guerra híbrida que Moscou já vem travando contra o Ocidente.

Tanque de guerra do Exército russo durante manobra militar (Foto: facebook.com/mod.mil.rus)

Tallin mostrou sintonia com a questão e fez alerta semelhante nesta semana, embora indique um prazo mais longo para o ataque russo, conforme relatou o jornal The Times.

“A nossa inteligência estima que seja de três a cinco anos, e isso depende muito de como gerimos a nossa unidade e mantemos a nossa postura em relação à Ucrânia”, afirmou a primeira-ministra estoniana Kaja Kallas em entrevista ao veículo britânico. “Porque o que a Rússia quer é uma pausa, e esta pausa é para reunir os seus recursos e forças. A fraqueza provoca agressores, então a fraqueza provoca a Rússia.”

Já a projeção mais alarmante da Alemanha sugere que, após as ações cibernéticas, teriam início distúrbios fronteiriços induzidos pela Rússia, a fim de justificar uma agressão. Isso colocaria em alerta não apenas as nações bálticas, tidas por Moscou como o ponto fraco da Otan, mas também a Polônia. Caberia, então, à aliança adotar medidas de dissuasão eficientes para impedir um ataque em grande escala.

O prazo citado pela Estônia é o mesmo que o chefe do Departamento de Segurança Nacional da Polônia, Jacek Siewiera, usou ao afirmar em dezembro que um ataque russo à Otan está mais próximo do que se imagina.

“Se quisermos evitar a guerra, os países da Otan no flanco oriental deveriam adotar um período mais curto, de três anos, para se preparar para o confronto”, disse Siewiera ao jornal polonês Nasz Dziennik.

Resposta da Otan

Recentes medidas adotadas pela aliança são um sinal claro de que a ameaça é levada a sério. Mesmo a Alemanha passou a se movimentar e aumentou seu orçamento de Defesa, após anos de investimento reduzido e de cautela excessiva com questões militares.

Em novembro, o governo alemão deu um passo decisivo para ampliar seu orçamento militar e assim atingir a meta de 2% do PIB (produto interno bruto) estabelecida pela Otan, conforme reportou a agência Reuters. Ainda firmou um pacto com a Lituânia para enviar soldados a cidades lituanas, atingindo em 2027 o efetivo projetado de 4,8 mil combatentes.

A medida deve se estender aos demais membros da aliança militar transatlântica. Em maio de 2023, o secretário-geral Jens Stoltenberg cobrou o aumento dos gastos com as Forças Armadas por parte dos países. À época, ele destacou a necessidade de um acordo para que cada um comprometesse um mínimo de 2% do PIB, como projeta a Alemanha.

Citando um relatório de 2021, ele destacou que, dos 30 países-membros (31 incluindo a recém-integrada Finlândia), apenas sete atingiram a meta de alocar 2% do PIB para gastos com defesa antes do início do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Na entrevista ao The Times, entretanto, a primeira-ministra da Estônia afirmou que o ideal seria 2,5% do PIB, não 2%. Segundo ela, é preciso enfrentar, com máxima urgência, problemas crônicos dos exércitos da Otan, como a escassez de munição e desafios logísticos para eventualmente mandar tropas à região de fronteira com a Rússia.

Paralelamente, os EUA ganharam acesso a 15 bases militares na Finlândia, país que em 2023 aderiu à Otan e deu à aliança uma posição privilegiada, vez que o território da nação escandinava compartilha uma fronteira de cerca de 1,34 mil quilômetros com a Rússia.

O acordo já foi acertado, de acordo com o site The Defense Post, faltando apenas o aval do parlamento finlandês. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da nação europeia, o pacto “fortalecerá a defesa da Finlândia porque permite a presença e o treino das forças dos EUA e o pré-posicionamento de material de defesa no território da Finlândia.”

Acordo semelhante foi firmado dias antes com a Suécia, que neste ano pode se tornar igualmente membro da Otan, faltando para isso somente as aprovações de Turquia e Hungria. De acordo com o governo finlandês, acordos assim não beneficiam apenas o anfitrião, mas também “apoiam a implementação da dissuasão e defesa da Otan.”

Mais do que defender suas próprias fronteiras, porém, Kallas diz que a melhor forma de conter Moscou é apoiar Kiev na guerra em curso. “É obrigação dos líderes continuarem a explicar porque uma vitória russa é perigosa não só para a segurança europeia, mas para a segurança de todo o mundo”, disse ela. “Se a agressão valer a pena em algum lugar, servirá como um convite para usá-la em outro lugar.”

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