Kherson: a batalha contra a Rússia que pode alterar o tabuleiro da guerra na Ucrânia

Após uma campanha defensiva conduzida por mais de 160 dias, uma ofensiva ucraniana pode mudar os rumos do conflito

A ponte Antonivskyi, que passa sobre o rio Dnieper, na região sul de Kherson, na Ucrânia, pode representar a travessia rumo ao início de uma nova e crucial fase da guerra iniciada no dia 24 de fevereiro. As informações são do think tank Atlantic Council.

Após ela e outras pontes terem sido destruídas por foguetes ucranianos, sendo inutilizadas para o tráfego militar e consequentemente deixando as tropas russas estagnadas do outro lado do rio, a estratégica cidade, primeiro grande centro conquistado pelo inimigo, ficou praticamente ilhada em relação aos territórios ocupados.

A estratégia de libertação em Kherson, caso tenha êxito, seria um dos grandes trunfos de Kiev sobre Moscou desde que Vladimir Putin colocou seu exército no país vizinho.

Kherson, cidade estratégica e economicamente vital para as ambições do Kremlin (Foto: WikiCommons)

Essa cartada ucraniana foi planejada durante meses, envolvendo muito treinamento militar com uso de armamento ocidental enviado por parceiros, em especial o lança-foguetes Himars, de fabricação americana, o mesmo sistema utilizado em outra vitória simbólica que resultou na retirada de soldados russos da Ilha das Cobras.

Foram semanas de avanço lento das forças ucranianas na região. Porém, as operações trouxeram como resultado a retomada de controle de 44 localidades e cidades.

Para Volodymyr Zelensky, a “cereja do bolo” seria o resgate de Kherson, o que mostraria ao mundo que seu país tem método para deter a Rússia, sinalizaria o cumprimento parcial de sua promessa de libertar os ucranianos sob ocupação e aumentaria a desmoralização dos agressores.

Ou vai ou racha

A obsessão russa por Kherson não é à toa. A cidade, um local economicamente vital, é fundamental para as ambições russas no sul do território ucraniano. Se o controle escapar de suas mãos, o Kremlin compromete os planos de avançar rumo a Odessa e ocupar o litoral do Mar Negro. De quebra, ficará preso na margem esquerda da Ucrânia, às voltas com novas contraofensivas com o objetivo de expulsar todo seu exército dali.

Em relação aos próximos passos, de acordo com o Atlantic Council, há analistas internacionais que defendem que uma pausa prolongada seria o mais indicado para os ucranianos. Isso viabilizaria treinamento adicional de soldados e a adição de novos sistemas de armas enviados pelo Ocidente.

O reforço no poder de fogo também é uma ideia fixa na mente de muitos ucranianos antes de poderem sonhar com operações ofensivas bem-sucedidas. Eles também creem que os militares de seu país precisam de mais armas, incluindo tanques e aeronaves. Problema é que o tempo não é um aliado.

Kherson foi a primeira grande cidade ucraniana ocupada por Moscou (Foto: UKRAINE NOW/Telegram)

Zelensky também sabe que, se perder, irá desperdiçar armas, que só não são mais preciosas nesse momento do que vidas perdidas. E o pior: tudo em troca de pouco ganho territorial. “Não está claro se eles terão outra chance”, observa artigo no portal Grid News.

A derrota dos donos da casa neste jogo beligerante também daria moral para Putin declarar “vitória” na guerra. Paralelo a isso, a Rússia estaria articulando a anexação da região, a exemplo do que fez na península da Crimeia em 2014. Um alerta de Washington relatou que Moscou provavelmente está planejando um referendo em Kherson para os próximos meses. 

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