Rússia alega que milhares de iPhones foram hackeados e culpa os EUA e a Apple

Apple rechaça acusação, e uma empresa de segurança cibernética russa afirma não possuir dados suficientes para culpar qualquer governo

Na segunda-feira (29), o FSB (Serviço Federal de Segurança russa) relatou que milhares de iPhones pertencentes a usuários russos e diplomatas estrangeiros no país foram hackeados, no que diz ser uma recente campanha de espionagem coordenada pelo governo dos EUA. Moscou, porém, não apresentou nenhuma evidência para sustentar a acusação, segundo informa o jornal Washington Post.

Separadamente, o CEO da empresa russa de cibersegurança Kaspersky Lab afirmou que dezenas de funcionários de alto escalão foram alvo de um “ataque cibernético direcionado, profissional e extremamente complexo.”

Em uma postagem no blog da empresa, a explicação é de que a campanha utilizou malware – software malicioso usado para danificar ou obter acesso não autorizado a sistemas de computador –, e o ataque ocorreu por meio de um iMessage invisível contendo um anexo malicioso. Essa técnica, segundo ele, explorou vulnerabilidades no sistema operacional iOS.

“Estamos confiantes de que a Kaspersky não foi o alvo principal desse ataque cibernético. Os próximos dias trarão mais clareza e mais detalhes sobre a proliferação mundial desse spyware”, disse Kaspersky.

Aparelho iPhone, da Apple, junho de 2018, Canadá (Foto: Divulgação/Unsplash/Christian Allard)

Pesquisadores da Kaspersky seguem analisando a campanha e não possuem evidências técnicas suficientes para atribuí-la a um responsável específico.

O FSB, no entanto, alega que milhares de vítimas foram enganadas. O serviço, sucessor da KGB da era soviética, diz que a existência da vulnerabilidade indica uma colaboração da Apple com hackers a serviço da Casa Branca.

A Apple negou veementemente tal acusação, declarando que nunca colaborou com nenhum governo para criar um “backdoor” (vulnerabilidade intencionalmente criada em um sistema ou software) em seus produtos e que “nunca o fará”, disse um porta-voz da empresa.

De acordo com um porta-voz do Kremlin, o governo considera os iPhones inerentemente inseguros. O FSB afirmou que os diplomatas hackeados eram de países como China e Israel.

Em resposta a essas alegações, Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington, expressou preocupação. Ele afirmou que, se as informações citadas forem verdadeiras, isso indicaria “mais um exemplo de ciberataques do governo dos EUA em países relevantes, incluindo a China.”

Pengyu ainda enfatizou a necessidade de Washington levar a sério essas preocupações e responder às demandas da comunidade internacional.

As acusações de uma campanha de espionagem cibernética surgem em um momento de tensão entre Rússia e EUA, devido ao conflito em curso na Ucrânia.

No mês passado, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirmou ter interrompido uma campanha de malware de longa duração conduzida pelo FSB, que visava alvos em mais de 50 países.

Em março, o Kremlin orientou as autoridades responsáveis pela organização das eleições presidenciais de 2024 na Rússia a não utilizarem iPhones, citando preocupações de que esses dispositivos pudessem ser vulneráveis a infiltrações de agências de espionagem ocidentais.

A recomendação do governo russo é para que os funcionários optem por aparelhos com o sistema Android, de preferência marcas chinesas ou russas. Entretanto, Moscou tende a ser ainda mais radical no futuro, quando pretende implantar exclusivamente aparelhos dotados do sistema doméstico Avrora.

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