Rússia endurece repressão à ‘propaganda gay’ e multa popular jornalista esportivo

Acusação teria como motivação uma entrevista com um artista performático gay, publicada no YouTube em 2021

O governo da Rússia tem intensificado a repressão ao que considera “propaganda gay”. Na terça-feira (12), o jornalista esportivo local Yury Dud foi julgado e condenado pela Justiça local com base em uma lei que pune os acusados de promover relações sexuais “não tradicionais”. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Dud, cujo canal no YouTube tem mais de 10 milhões de inscritos, recebeu uma multa de 120 mil rublos (R$ 11 mil), aplicada por uma corte distrital de Lefortovo.

De acordo com o advogado de direitos humanos Pavel Chikov, o que levou à acusação contra Dud foi uma entrevista que ele realizou com um artista performático gay, publicada no canal de YouTube em 2021, embora a homossexualidade não tenha sido o tema da conversa.

O jornalista tem sido alvo frequente da Justiça russa. Ele já havia sido multado em 100 mil rublos (R$ 91,8, no câmbio atual), em outubro do ano passado, acusado de fazer “propaganda de drogas”. Já em abril deste ano foi listado como “agente estrangeiro” por ter se posicionado publicamente contra a guerra na Ucrânia, que ele classificou como um “frenesi imperial”.

O jornalista esportivo russo Yury Dud (Foto: reprodução/Facebook)
Lei mais rígida

Uma lei aprovada em 2013 na Rússia pune quem for considerado culpado por fazer promoção do que o governo chama de “relações sexuais não tradicionais”. No entanto, o texto legal engloba apenas as situações em que o acusado tenha como alvo menores de idade.

Nos últimos dias, porém, legisladores russos passaram a debater uma mudança na legislação a fim de punir também os casos em que adultos sejam o alvo da “propaganda gay“. Se o projeto for aprovado pelo Legislativo, qualquer debate que faça referência à homossexualidade pode resultar em multa, de acordo com a agência catari Al Jazeera.

“Propomos estender a proibição geral de tal propaganda independentemente da idade do público”, disse em seu canal de Telegram Alexander Khinshtein, chefe do comitê de informação da Duma, a câmara baixa da Assembleia Federal.

Vyacheslav Volodin, presidente do parlamento russo, disse que a mudança legal não tem mais obstáculos desde que a Rússia deixou de fazer parte do órgão de fiscalização de direitos humanos do Conselho Europeu, um resultado direto da invasão à Ucrânia.

“As demandas para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Rússia são coisa do passado”, disse ele, referindo-se à lei local que aceita somente o casamento entre homem e mulher. “As tentativas de impor valores estranhos à nossa sociedade falharam”.

Até 1993, a homossexualidade era considerada ilegal na Rússia, que a manteve na lista de doenças mentais até 1999. A Igreja Ortodoxa, mais forte órgão religioso do país, condena relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

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