A Rússia pretende estender sua confrontação com o Ocidente para além do território ucraniano, testando diretamente o compromisso da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) com a defesa coletiva. O alerta foi feito por Bruno Kahl, chefe do Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND), em entrevista ao podcast da organização de mídia Table Media. As informações foram reproduzidas pela agência Reuters.
“Estamos bastante certos, e temos informações de inteligência que mostram isso, de que a Ucrânia é apenas um passo no caminho rumo ao Ocidente”, afirmou Kahl. Segundo ele, o objetivo russo não é uma ofensiva em larga escala, como tanques cruzando fronteiras, mas ações mais discretas que desafiem a atuação da aliança militar ocidental.

A estratégia russa envolveria ações que evitam o confronto militar direto, mas que colocariam à prova a disposição dos EUA e dis demais membros em cumprir o Artigo 5 da Otan, que prevê resposta conjunta em caso de ataque a um país-membro.
“Eles não precisam despachar exércitos de tanques para isso”, explicou Kahl. “Basta enviar homenzinhos verdes à Estônia para proteger supostas minorias russas oprimidas.”
A referência aos “homenzinhos verdes” remete à anexação da Crimeia, em 2014, quando soldados russos em roupas civis e sem insígnias ocuparam prédios públicos na península, enquanto Moscou negava envolvimento direto. O episódio evidenciou uma nova forma de guerra híbrida adotada pelo Kremlin.
A Alemanha já é o segundo maior apoiador da Ucrânia em termos de armamentos e recursos financeiros. Sob o novo governo do chanceler Friedrich Merz, o país promete intensificar a ajuda, inclusive com o desenvolvimento de mísseis capazes de atingir o interior do território russo.
Merz visitou Washington na semana passada e, durante encontro com o presidente Donald Trump, confrontou a ideia de que o conflito seria apenas uma “briga de crianças”. “Enquanto a Ucrânia mira nos alvos militares russos, a Rússia bombardeia cidades ucranianas”, declarou o chanceler.
Kahl não especificou quais autoridades russas estariam articulando esse tipo de operação nem forneceu detalhes sobre as fontes que embasam os relatórios de inteligência. A menção a países bálticos, como a Estônia, aumenta a tensão em uma região considerada linha de frente da Otan contra possíveis avanços de Moscou.