Soldados russos são forçados a lutar feridos ou até com membros amputados, diz Reino Unido

Descaso atinge sobretudo ex-presos que deixaram a cadeia para servir às Forças Armadas, sob a promessa de perdão por seus crimes

Soldados russos feridos no campo de batalhas têm sido obrigados a voltar à guerra mesmo não estando totalmente recuperados. Em casos extremos, retornam ao combate com membros amputados. É o que afirma o mais recente boletim informativo do Ministério da Defesa do Reino Unido (MOD, da sigla em inglês) sobre o conflito na Ucrânia, divulgado na segunda-feira (18).

“É muito provável que os membros das unidades russas Tempestade-Z estejam retornando às tarefas de combate com ferimentos não curados e mesmo após amputações de membros”, diz o documento.

As unidades citadas são pelotões de segunda classe que ganharam o apelido extraoficial de Tempestade-Z. A letra Z foi adotada por Moscou como símbolo da guerra, enquanto a palavra “tempestade” remete às tropas de assalto das Forças Armadas, que geralmente lideram os ataques e se expõem a um risco maior.

Soldados do exército russo em treinamento (Foto: eng.mil.ru)

Tais pelotões são geralmente formados por criminosos que optaram por servir às Forças Armadas em troca de perdão por seus crimes, militares regulares que cometeram atos de indisciplina ou insubordinação ou que foram flagrados bêbados por seus superiores, sendo então punidos.

Esses destacamentos invariavelmente são usados em missões com menor chance de sobrevivência. Eles atuam quase sempre na linha de frente e sofrem com a falta de munição, comida, água e socorro médico, como já havia relatado em outubro, a agência Reuters. Entretanto, a extensão do descaso ficou mais clara com a manifestação do governo britânico.

“Isto se segue a relatos credíveis de que membros da Tempestade-Z, de milícias de Donetsk e do Wagner Group receberam frequentemente tratamento mínimo ou nenhum tratamento”, diz o MOD.

Entre os integrantes desses destacamentos de segunda classe, os combatentes que mais sofrem são os ex-presos, que formam a maioria dos membros da Tempestade-Z. “Uma das razões é que os prisioneiros muitas vezes não têm a documentação necessária para aceder aos hospitais militares”, afirma o boletim do Reino Unido.

Calote do governo

A reportagem da Reuters usava inclusive números para ilustrar o quanto essas unidades sofrem. Um russo que serviu à Tempestade-Z relatou que no destacamento dele, com 120 pessoas, apenas 15 sobreviveram a uma batalha contra as forças ucranianas em Bakhmut, em junho.

Uma fonte dentro das Forças Armadas russas confirmou que havia orientação inclusive para que fosse negado atendimento médico a combatentes feridos desses pelotões. Ele conto que em Bakhmut, palco de alguns dos confrontos mais violentos da guerra, teve que desobedecer seu superior quando decidiu atender seis ou sete colegas feridos.

Já familiares de um ex-preso relataram que nem o pagamento acordado com o governo era respeitado. A promessa era de 200 mil rublos russos (R$ 10,83 mil) por mês, mas o homem costumava receber somente a metade.

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