Suposta troca no comando militar russo sugere frustração com avanço lento na Ucrânia

Segundo analistas, coronel-general Gennady Zhidko seria o novo comandante das forças russas na Ucrânia

O avanço das tropas russas na Ucrânia estaria rendendo poucos ganhos territoriais, motivando o Kremlin a fazer mudanças. É o que dão a entender declarações oficiais e imagens divulgadas pelo Ministério da Defesa da Rússia, que nas últimas semanas teria trocado o comando militar do país, segundo apontam analistas. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Especulações foram alimentadas a partir da aparição do vice-ministro da Defesa russo Gennady Zhidko ao lado do ministro da Defesa Sergei Shoigu durante visita ao leste da Ucrânia, região ocupada pela Rússia, no fim de semana. Isso levantou suspeitas de que ele poderia ter sido nomeado como o novo comandante da “operação militar especial”, eufemismo usado por Moscou para se referir à guerra.

Com base nas imagens mostradas pela TV estatal Zvezda, administrada pelo Ministério da Defesa russo, o analista militar Rob Lee escreveu em sua conta no Twitter que isso “parece confirmar que o coronel-general Gennady Zhidko é o comandante das forças russas na Ucrânia”. O general Alexander Dvornikov, que estava no comando da ofensiva russa, não é visto em público há semanas. Ele havia sido anunciado em abril justamente devido ao insucesso de uma rápida conquista.

Vladimir Putin cumprimenta o major-general Gennady Zhidko durante cerimônia de apresentação de oficiais nomeados (Foto: Kremlin.ru/Divulgação)

A reorganização no alto comando sinaliza para uma tentativa de Moscou melhorar o desempenho do exército russo em meio aos combates com os vizinhos. Mesmo com superioridade militar, tanto em contingente quanto em equipamentos e munição, as tropas do presidente Vladmir Putin encontram dificuldades para progredir, ao contrário do que se previa no início do conflito.

“Rotações drásticas dentro das forças armadas russas, se verdadeiras, não são ações tomadas por uma força à beira de um grande sucesso”, analisou o Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank dos EUA.

Os rumores da promoção de Zhidko surgiram em junho através da Equipe de Inteligência de Conflitos, uma agência de investigação independente. No currículo, o vice-ministro da Defesa tem participação na intervenção militar da Rússia na Síria em apoio ao presidente Bashar al-Assad.

Na visão de Rob Lee, a nomeação indicaria que a Rússia está tentando colocar a operação na Ucrânia totalmente sob a competência de um comandante. Segundo o analista, até agora, o Kremlin preferiu microgerenciar a campanha, em vez de dar o comando a uma figura central.

Não foi só o general Alexander Dvornikov, famoso pela crueldade das operações e bombardeios em Aleppo, a ser aparentemente deslocado da função. Outras importantes figuras de alto escalão militar também teriam sido removidas e substituídas recentemente.

Ineficácia

Alguns analistas se dizem céticos sobre o quanto uma remodelação no comando teria a acrescentar no desempenho do exército russo, que estaria perdendo o fôlego. E a dificuldade tende a aumentar à medida que Kiev recebe novas remessas de armamento pesado fornecidas pelo Ocidente. 

“O problema é que Putin não tem Forças Armadas muito eficazes”, disse o analista militar independente Pavel Luzin. “Não acho que Zhidko será capaz de realizar milagres”.

Cerca de 33 mil soldados russos foram mortos, feridos ou feitos prisioneiros na guerra até agora, disse o chefe do Estado-Maior do Exército britânico em uma conferência em Londres na terça-feira (28).

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