O ativista britânico de extrema direita Tommy Robinson foi absolvido da acusação de terrorismo após um julgamento de dois dias no Tribunal de Magistrados de Westminster, em Londres. A decisão encerra um caso que gerou forte repercussão no Reino Unido, ao colocar em debate o uso das leis antiterrorismo e a interferência de figuras internacionais na política britânica, entre elas, o bilionário Elon Musk, citado pelo próprio Robinson como financiador de sua defesa. As informações são do Politico.
Robinson, cujo nome verdadeiro é Stephen Yaxley-Lennon, havia sido acusado de descumprir a Lei Antiterrorismo ao se recusar a fornecer o PIN do seu celular à polícia durante uma abordagem na fronteira do Eurotúnel, em 28 de julho de 2024. O juiz distrital Sam Goozee o considerou inocente, afirmando que a ação policial pareceu motivada pelas convicções políticas do réu.
“Não consigo afastar a ideia de que foram as suas crenças políticas que motivaram essa abordagem”, declarou Goozee, acrescentando que o caso envolvia uma “característica protegida”.

Fora do tribunal, Robinson comemorou a decisão e acusou a polícia de discriminação política. Ele também elogiou o dono da Tesla e da rede social X (antigo Twitter), dizendo que Musk teria pago suas custas judiciais, estimadas em cerca de £100 mil (cerca de R$ 702 mil).
“Antes de tudo, obrigado, Elon Musk, muito obrigado”, disse Robinson. “Por que foi preciso um empresário americano para lutar por justiça aqui, contra acusações de terrorismo a jornalistas?”
Embora a equipe de Musk não tenha confirmado o financiamento, o empresário discursou em um comício organizado por Robinson em setembro, o que reforçou as críticas sobre sua influência na política britânica. Musk, que vem atacando publicamente o governo trabalhista e as políticas migratórias do país, chegou a prever uma “guerra civil no Reino Unido”.
A deputada Emily Darlington, do Partido Trabalhista, afirmou que o caso mostra “como forças externas tentam influenciar a democracia britânica”. Já Max Wilkinson, porta-voz liberal-democrata para assuntos internos, classificou o episódio como “perturbador”, dizendo que “a interferência de Musk em favor da extrema direita deve preocupar milhões de britânicos”.
Abuso de poder e liberdade de imprensa
Durante o julgamento, foi revelado que a polícia exigiu o acesso ao telefone de Robinson com base no Anexo 7 da Lei do Terrorismo, que autoriza a detenção de pessoas em portos e fronteiras para averiguação. Robinson se recusou a entregar o código, alegando que o dispositivo continha material jornalístico confidencial.
O juiz reconheceu que há uma “zona cinzenta” entre crenças políticas, ativismo e possíveis investigações de segurança nacional, mas concluiu que a abordagem da polícia foi indevida.
“O Estado está tentando acessar meu trabalho e minhas investigações como jornalista”, afirmou Robinson após o julgamento.
O revisor independente da legislação antiterrorista, Jonathan Hall, disse ao Politico que o caso “não tratava de terrorismo, mas de abuso de poder”. Segundo ele, a decisão “reforça a necessidade de limites claros no uso das leis antiterrorismo contra cidadãos comuns”.