Ucrânia acusa Rússia de impedir que medicamentos cheguem a pessoas doentes

Ministro da Saúde diz que ação de Moscou nesse sentido é proposital e constitui 'crimes contra a humanidade e crimes de guerra'

Viktor Liashko, ministro da Saúde da Ucrânia, acusou a Rússia de impedir o governo ucraniano de levar medicamentos a cidadãos que deles necessitam em meio à guerra que teve início no dia 24 de fevereiro. Ele fez a acusação em entrevista à agência Associated Press.

“Durante todos os seis meses de guerra, a Rússia não permitiu corredores humanitários adequados para que pudéssemos fornecer nossos próprios medicamentos aos pacientes que precisam deles”, disse Liashko, referindo-se a remédios que Kiev habitualmente oferece a pacientes com câncer ou doenças crônicas.

“Acreditamos que essas ações estão sendo tomadas intencionalmente pela Rússia e as consideramos crimes contra a humanidade e crimes de guerra que serão documentados e reconhecidos”, disse o ministro.

Viktor Liashko, ministro da Saúde da Ucrânia (Foto: reprodução/Facebook)

Durante a guerra, o sistema de saúde da Ucrânia foi seriamente afetado. Segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), foram registrados 445 ataques a hospitais e outros estabelecimentos de saúde até o dia 11 de agosto, sendo que essas ações resultaram diretamente em 86 mortes e 105 feridos.

Há, ainda, o prejuízo indireto, segundo o ministro. “Quando estradas e pontes são danificadas em áreas agora controladas pelas forças ucranianas, é difícil levar alguém que teve um ataque cardíaco ou derrame para o hospital”, afirmou Liashko, destacando que as baixas causadas pela guerra não se resumem às registradas no campo de batalhas. “É um número que não pode ser calculado”, disse ele.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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