Ataque a hospital mata quatro na Ucrânia e amplia lista de possíveis crimes de guerra russos

Polícia de Kharkiv denuncia bombardeio que teria atingido sete pessoas, com quatro mortes. OMS lista 72 ataques contra instalações médicas

A OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou 72 ataques contra instalações médicas na Ucrânia entre os dias 24 de fevereiro, quando ocorreu a invasão do país por tropas da Rússia, e o dia 21 de março. Foram confirmadas oficialmente 71 mortes e 37 pessoas feridas nesse período. E o número aumentará, pois na conta não entra, por exemplo, um ataque relatado por veículos de imprensa estrangeiros a um hospital de Kharkiv na última sexta-feira (25), no qual teriam morrido quatro pessoas.

“Ataques a estabelecimentos e profissionais de saúde afetam diretamente a capacidade das pessoas de acessar serviços essenciais de saúde. Especialmente mulheres, crianças e outros grupos vulneráveis”, diz comunicado publicado pela OMS no dia 13 de março. “Já vimos que as necessidades de saúde de mulheres grávidas, novas mães, crianças menores e idosos na Ucrânia estão aumentando, enquanto o acesso aos serviços está sendo severamente limitado pela violência”.

O ataque mais recente foi reportado pela polícia de Kharkiv, cidade no leste ucraniano próxima à fronteira com a Rússia, de acordo com dois jornais, o saudita Arab News e o israelense Times of Israel. “Nesta manhã, após um bombardeio contra a infraestrutura civil por vários lançadores de foguetes, sete civis ficaram feridos, quatro deles morreram”, disseram as autoridades locais, citando que a ação ocorreu no distrito de Osnovyansky.

Área externa de hospital de Kharkiv supostamente bombardeado por russos (Foto: reprodução/Facebook)

De acordo com o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, quase dois terços dos 1,5 milhão de habitantes da cidade tiveram que fugir desde que a guerra começou. “Esses atentados criminosos têm como alvo áreas residenciais, civis e infraestrutura, como escolas”, disse ele em coletiva de imprensa improvisada, realizada em um local secreto a fim de evitar ataques. “É uma guerra contra Kharkiv, contra a Ucrânia, contra civis”.

Como nos casos anteriores de ataques a civis, que têm entre os alvos uma maternidade de Mariupol bombardeada, evidências têm sido reunidas a fim de denunciar o presidente russo Vladimir Putin e seus aliados por crimes de guerra. “A polícia está documentando este crime contra o povo ucraniano e está reunindo todas as evidências materiais para levar os autores à justiça”, disse a polícia de Kharkiv.

Segundo Ryan Goodman, professor de direito da Universidade de Nova York e ex-conselheiro especial do Departamento de Defesa dos EUA, ações desse tipo são prioridade nas investigações. “O padrão de ataques ajudará os promotores a construir o caso de que são ataques deliberados”, disse ele à agência Associated Press. “Os promotores farão inferências de quantas instalações médicas foram atacadas, quantas vezes instalações individuais foram repetidamente atingidas e em que período de tempo”.

Jarno Habicht, representante da OMS na Ucrânia, reforçou a denúncia contra Moscou. “Os ataques à saúde são uma violação do direito internacional humanitário e uma tática de guerra perturbadoramente comum. Eles destroem a infraestrutura crítica e, pior, destroem a esperança”, disse ele, segundo a agência catari Al Jazeera. “Eles privam pessoas já vulneráveis de cuidados que muitas vezes são a diferença entre a vida e a morte. Os cuidados de saúde não são, e nunca devem ser, um alvo”.

Bomba russa que teria atingido hospital de Kharkiv, na Ucrânia (Foto: reprodução/Facebook)

Os mortos de Putin

Em 1991, Vladimir Putin deixava de ser um espião da KGB, o serviço secreto russo que chegara ao fim com o colapso da União Soviética, em dezembro daquele ano. A partir dali, a ascensão do ex-agente secreto foi rápida como um míssil hipersônico. No final daquela década, ele já figurava no primeiro escalão político do país, ostentando os poderes de primeiro-ministro durante o governo Boris Yeltsin.

Em dezembro de 1999, Yeltsin renunciou, e Putin assumiu como presidente interino. Um importante conflito em curso naquela época foi marcado pelo pulso firme do novo mandatário, característica que logo chamou a atenção da opinião pública, que enxergou naquela figura um líder disposto a recolocar sob as ordens de Moscou os rebeldes chechenos. A reedição da guerra da Chechênia foi uma ação interpretada por muitos como um ressurgimento do poderio do Estado russo.

De lá para cá, o chefe do Kremlin consolidou o poder e fortaleceu o papel da Rússia no cenário mundial, meta atingida à base de violência e autoritarismo. Isso inclui perseguição a opositores políticos. Inclusive com suspeitas de envenenamento, censura e repressão à imprensa e a ativistas contrários ao regime. Além de mortes, muitas mortes. Nessa conta entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, uma invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes nos quais o líder russo esteve envolvido diretamente ou é forte suspeito de participação, todos ocorridos nas mais de duas décadas desde que foi elevado ao posto de autocrata. São dezenas de milhares de pessoas que perderam a vida em função de ações associadas a Putin, um número que aumentará bastante ao longo da guerra que ele provocou na Ucrânia. Relembre os casos.

Tags: