Ucrânia admite retomar as negociações de paz, mas só com o sucessor de Putin

Analistas dizem que a queda do presidente não é uma hipótese impossível e explicam o cenário em que ela poderia ocorrer

A Ucrânia até estaria disposta a retomar as negociações com a Rússia por um cessar-fogo que venha a encerrar a guerra em curso desde o dia 24 de fevereiro. Mas não aceitaria debater com o presidente Vladimir Putin, apenas com o sucessor dele. A afirmação foi feita por Mykhailo Podolyak, conselheiro do líder ucraniano Volodymyr Zelensky.

Podolyak se manifestou através do Twitter. “Importante: a Ucrânia nunca se recusou a negociar. Nossa posição negocial é conhecida e aberta. Primeiro, a FR (Federação Russa) retira tropas da Ucrânia. Depois, todo o resto. Putin está pronto? Obviamente não. Por isso, somos construtivos em nossa avaliação: vamos conversar com o próximo líder da FR”, disse ele.

De acordo com o conselheiro, Putin mostrou-se intransigente nas tentativas anteriores de negociar o fim do conflito. A única opção oferecida a Kiev é “admitir a derrota e a perda de territórios”. Nessas condições, um acordo está fora de cogitação. Daí a necessidade de negociar com outra pessoa, o que só seria possível caso Putin fosse derrubado.

A declaração de Podolyak foi uma resposta a reportagem do jornal The Washington Post, segundo a qual o presidente norte-americano Joe Biden tem estimulado Kiev a retomar as conversas. Entretanto, os EUA os ucranianos não precisariam realmente se sentar à mesa com os russos. Bastaria sinalizar interesse em fazê-lo. Seria um gesto de boa vontade para estimular as nações ocidentais a manter o apoio militar à Ucrânia em uma guerra cujo final não está à vista.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin: poder ameaçado? (Foto: Wikimedia Commons)
Putin pode cair?

Por mais que a queda de Putin pareça uma hipótese distante, tanto quanto ou mais que o próprio fim da guerra, ela é considerada possível por alguns analistas. Um deles é Volodymyr Ohryzko, ex-ministro das Relações Exteriores da Ucrânia.

“As tendências para Putin são muito negativas. Não podemos prever agora quando o regime entrará em colapso, mas isso acontecerá. E vai desmoronar devido a muitas circunstâncias”, disse ele em entrevista a uma rádio ucraniana, cujo conteúdo foi reproduzido pela revista Newsweek.

De acordo com o diplomata, o problema para o presidente russo não é a insatisfação popular, e sim a rejeição de parte da elite do país. “Há uma ameaça ao regime de Putin de dentro. Não na forma de algum tipo de rebelião contra as coisas que estão acontecendo, mas por causa do ‘amor próprio ferido'”, avaliou.

Daniel Treisman, professor de Ciência Política na Universidade da Califórnia, fez avaliação semelhante em artigo publicado pela revista Foreing Affairs. Segundo ele, “a guerra já prejudicou as relações de Putin com alguns de sua comitiva”, o que levou o presidente a culpar a cúpula das forças armadas e os serviços de inteligência pelos fracassos no campo de batalhas.

Embora descarte a possibilidade de um golpe, vez que Putin se blindou de forma eficiente, Treisman afirma que o regime “está mais vulnerável do que nunca a outra ameaça: um colapso paralisante à medida que as crises acumuladas sobrecarregam a capacidade de tomada de decisão do Kremlin. A guerra está exacerbando as fraquezas internas do sistema, empurrando-o na direção do colapso”.

Assim, caso perceba que seu poder se enfraqueceu a ponto de impedir um governo eficiente, Putin poderia indicar um candidato para ocupar o espaço dele nas eleições de 2024. “Ou até mesmo compartilhar o poder antes disso”, diz o analista.

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