UE suspende acordo de vistos com a Rússia, mas sem banir turistas russos

Com a medida, vistos para a UE para cidadãos russos ficarão mais caros e mais difícil de obtê-los

Os países da União Europeia (UE) decidiram durante reunião de cúpula em Praga, nesta quarta-feira (31), suspender um acordo de facilitação de vistos firmado com a Rússia. O cancelamento deixará mais difícil o processo de solicitação, tornando-o mais caro, árduo e demorado para os cidadãos russos que planejam visitar os países do bloco. As informações são do jornal Washington Post.

O acordo de facilitação, que data de 2007, foi elaborado para dar tratamento preferencial aos pedidos de visto russos. Ele havia sido parcialmente suspenso no início da guerra na Ucrânia, em fevereiro. Agora, o custo irá saltar de 35 para 80 euros. 

O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, justificou a medida ao dizer que os ministros concordaram que as relações com Moscou “não podem ser normais”.

“Concordamos com a suspensão total do acordo de facilitação de vistos União Europeia-Rússia”, disse Borell durante entrevista coletiva.

Bandeira da União Europeia (Foto: Markus Spiske/Unsplash)

O bloco, que possui 27 Estados-membros, já havia banido voos russos do espaço aéreo da UE e aplicado sanções a mais de mil pessoas conectadas ao conflito iniciado por Vladimir Putin. Porém, os países estão divididos no que diz respeito à questão do turismo.

Borrell é um dos que se opôs fortemente à proibição geral de viajantes russos, alegando que o bloco precisava ser “mais seletivo” em sua abordagem e permitir àqueles que desejassem deixar a Rússia.

Outras nações que se opõem à medida são Alemanha e França. Para ambos, uma proibição geral puniria injustamente todos os russos. 

Berlim e Paris estão receosos de que a limitação de vistos acabe impedindo as vozes anti-Kremlin de deixar o país. E tal proibição ainda daria munição para Putin sustentar sua narrativa de “russofobia” vinda do Ocidente.

Quem pensa diferente é o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ele e outros líderes da UE argumentam que impor restrições a viajantes russos deve fortalecer os embargos do bloco, enviando uma mensagem a Moscou sobre o preço alto a ser pago após uma invasão. Além disso, sustentam que irá trazer benefícios à segurança.

“Vimos muitos russos viajando para lazer e compras, como se nenhuma guerra estivesse acontecendo na Ucrânia”, disse o principal diplomata da UE.

Borrell também disse que os países que fazem fronteira com a Rússia “podem tomar medidas em nível nacional para restringir a entrada na União Europeia”. Antes da reunião, a Polônia e os três estados bálticos da Estônia, Letônia e Lituânia já haviam manifestado que estavam considerando proibir os viajantes russos, caso a UE não o fizesse.

Portas fechadas

Em Kiev, as autoridades ucranianas permanecem focadas em medidas mais restritivas. “Deixe-os viver em seu próprio mundo até que mudem sua filosofia”, disse Zelensky em entrevista ao The Washington Post este mês. “Esta é a única maneira de influenciar Putin”.

Já o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, foi ainda mais áspero ao comentar a questão no Twitter. Ele citou os conflitos coordenados por Putin desde que a facilitação de vistos entrou em vigor há 15 anos.

“Desde a facilitação de vistos em 2007, Moscou atacou a Geórgia, lançou uma guerra contra a Ucrânia e cometeu vários crimes. Tudo isso com apoio popular esmagador”, disse. “Para transformar a Rússia, feche a porta para os turistas russos”.

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