Violentos confrontos com sérvios étnicos ferem mais de 30 soldados da Otan em Kosovo

Tensões continuam a aumentar na nação dos Bálcãs, onde manifestantes exigiam a remoção de prefeitos de etnia albanesa

Mais de 30 soldados da missão liderada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Kosovo foram feridos na segunda-feira (29), durante confrontos com manifestantes sérvios que exigem a remoção de prefeitos de etnia albanesa recentemente eleitos. As informações são da agência Associated Press.

A força de manutenção da paz da Otan em Kosovo (KFOR, na sigla em inglês) relatou ter enfrentado “ataques não provocados” enquanto lidava com uma multidão hostil. Os manifestantes entraram em confronto com a polícia e tentaram forçar a entrada em um prédio do governo na cidade de Zvecan, localizada 45 quilômetros ao norte da capital Pristina.

De acordo com um comunicado, 11 soldados italianos e 19 soldados húngaros foram feridos. Esses ferimentos incluem fraturas e queimaduras causadas por dispositivos explosivos incendiários improvisados. Além disso, três soldados húngaros foram feridos por armas de fogo, mas os ferimentos não são fatais.

Soldados do KFOR durante operação (Foto: Georgia National Guard/Flickr)

O comandante da KFOR, major-general Ângelo Michele Ristuccia, enfatizou que ambas as partes devem assumir total responsabilidade pelo que aconteceu e evitar qualquer escalada, em vez de se apoiarem em narrativas falsas.

De acordo com o presidente sérvio Aleksandar Vucic, 52 sérvios também ficaram feridos nos confrontos, sendo três em estado grave. Ele mencionou que um indivíduo foi “ferido com dois tiros por forças especiais albanesas [étnicas]”.

O ministro da Defesa da Hungria informou através do Facebook que “mais de 20 soldados húngaros” também ficaram feridos, com sete deles em estado grave, porém estáveis.

O Ministério das Relações Exteriores da Itália relatou que três soldados italianos ficaram gravemente feridos. A primeira-ministra do país, Giorgia Meloni, juntou-se à Otan para fazer um apelo a todas as partes envolvidas, solicitando que deem um passo atrás e reduzam as tensões.

A violência ocorreu devido a crescentes tensões no norte de Kosovo, onde os sérvios étnicos tentaram impedir a entrada de funcionários étnicos albaneses recém-eleitos em prédios municipais. A polícia local usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão e permitir o acesso dos novos funcionários.

Em resposta, a Sérvia colocou suas forças militares em alerta máximo e enviou tropas adicionais para a fronteira com Kosovo.

Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) estão intensificando esforços para resolver a disputa entre Kosovo e Sérvia, devido à preocupação com a instabilidade na Europa, especialmente com a intensificação do conflito na Ucrânia envolvendo a Rússia. A UE deixou claro que tanto Sérvia quanto Kosovo devem normalizar as relações se desejarem progredir na sua jornada para se tornarem membros do bloco.

Os embaixadores dos países do Quint – grupo formado por França, Itália, Alemanha, Reino Unido e EUA para promover a estabilidade, o diálogo e o progresso na região dos Bálcãs Ocidentais – realizaram uma reunião em Pristina com o primeiro-ministro Albin Kurti. E pediram a ele que tomasse medidas para reduzir as tensões e desescalar a situação, ao mesmo tempo em que condenaram veementemente a violência dos sérvios contra as tropas e jornalistas da KFOR.

Por que isso importa?

Sérvia e Kosovo mantêm péssimas relações desde a guerra travada no fim dos anos 1990 e que separou o território. Após sua declaração unilateral de independência de Belgrado, em 2008, Kosovo hoje tem o reconhecimento dos EUA e da UE. Sérvia e Rússia ainda reconhecem o território como sérvio.

A maioria das pessoas que perdeu a vida na guerra de Kosovo eram albaneses étnicos. Uma campanha aérea da Otan de 78 dias contra as tropas sérvias deu fim ao conflito.

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