A eleição presidencial na Romênia tomou um rumo inesperado no domingo (24), com a surpreendente vitória no primeiro turno de Călin Georgescu, um candidato de extrema direita e com posições pró-Rússia. O resultado abalou os corredores de Bruxelas, levantando preocupações sobre a estabilidade da União Europeia (UE) e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), das quais Bucareste é membro estratégico. As informações são do site Politico.
Georgescu, um ultranacionalista sem filiação partidária, é visto como um populista típico da atualidade: carismático, crítico das elites ocidentais e amplamente apoiado nas redes sociais, onde acumula milhões de seguidores. Sua ascensão inesperada levanta questionamentos sobre a influência russa em democracias europeias, especialmente em países que têm um histórico de ocupação soviética, como a Romênia.
A candidata reformista Elena Lasconi, que enfrentará Georgescu no segundo turno em 8 de dezembro, fez um apelo direto aos romenos para que resistam ao que ela chamou de uma tentativa de Moscou de explorar a insatisfação popular. “Não podemos deixar que o descontentamento com o sistema atual se torne uma arma nas mãos da Rússia”, afirmou durante um comício em Bucareste.
A Romênia, até agora vista como um aliado confiável da Otan e um pilar da UE, corre o risco de seguir o caminho de outros países do Leste Europeu que têm se aproximado de Moscou. Nações como Hungria, Eslováquia e Bulgária já demonstram tendências pró-Rússia, enquanto movimentos semelhantes são observados na República Tcheca e em outros locais.
Para observadores internacionais, o resultado do primeiro turno na Romênia reflete a estratégia de guerra híbrida de Moscou para desestabilizar instituições europeias, aproveitando-se de crises internas e descontentamentos sociais. Analistas também alertam para os riscos de uma maior fragmentação no bloco europeu caso a Romênia adote uma postura anti-UE.
Suspeitas de influências externas
A Romênia, tradicionalmente um aliado estratégico do Ocidente, pode estar prestes a viver uma reviravolta em seu cenário político, caso Georgescu vença nas próximas eleições. Localizada na extremidade oriental da União Europeia, a Romênia tem sido um apoio vital para a Ucrânia no contexto da guerra com a Rússia, principalmente devido à sua posição geográfica e à importância estratégica de suas bases militares, como a de Mihail Kogălniceanu, no Mar Negro.
Entretanto, a ascensão de Georgescu tem gerado preocupações em vários círculos políticos e internacionais. O candidato, que conquistou 22,9% dos votos em um cenário eleitoral sem grandes apoios partidários, tem sido apontado como uma figura que surge de um “vácuo político” na Romênia. Para muitos especialistas, seu surgimento meteórico nas pesquisas e nas redes sociais, especialmente no TikTok, levanta suspeitas de um possível financiamento externo.
“Ele é o produto do vácuo [na política romena] e provavelmente do dinheiro russo”, declarou Nič, um analista político da região. “Se alguém consegue investir tanto dinheiro de repente em plataformas como o TikTok, isso desperta uma série de questões”, completou, aludindo à crescente presença de Georgescu nas mídias sociais e à sua habilidade em angariar apoio de forma rápida e eficaz.
Em contraste, o candidato reformista liberal Lasconi, que obteve 19,2% dos votos, foi derrotado por Georgescu em uma disputa que reflete a polarização crescente no país. Lasconi, que representa uma abordagem mais pró-Ocidente e reformista, não conseguiu vencer o ímpeto ultranacionalista, que promete mudanças significativas nas alianças internacionais da Romênia, incluindo um distanciamento da União Europeia e maior aproximação com Moscou.
Especialistas apontam que, caso Georgescu seja eleito, as relações da Romênia com seus aliados ocidentais podem se tornar mais tensas. A base de Mihail Kogălniceanu, essencial para as operações da Otan no Mar Negro, poderia ser colocada em risco, assim como outras iniciativas estratégicas do país. Com o país enfrentando desafios internos e externos, a política romena continua a ser um campo de disputas intensas, onde o futuro próximo poderá decidir não apenas a estabilidade nacional, mas também o papel da Romênia no cenário geopolítico global.