Google Docs ficou bloqueado na Rússia após publicação de lista ligada a Navalny

Arquivo contém candidatos ligados ao sistema de "votação inteligente" pregado por Navalny para a eleição parlamentar de 19 de setembro

O acesso ao Google Docs, um serviço online de armazenamento de documentos digitais, ficou temporariamente indisponível na Rússia, de acordo com a agência independente de monitoramento de internet GlobalCheck. O bloqueio ocorreu na quarta-feira (15) e coincidiu com a publicação no site de um arquivo ligado ao oposicionista local Alexei Navalny. As informações são da Radio Free Europe.

O arquivo em questão seria uma lista de candidatos associada ao sistema de “votação inteligente” pregado por Navalny para a eleição parlamentar de 19 de setembro. A estratégia do oposicionista consiste em incentivar que seus seguidores apoiem o candidato que tiver a melhor chance de derrotar o partido Rússia Unida, aliado do presidente Vladimir Putin, em suas regiões.

repressão digital na Rússia tirou do ar o Google Docs, serviço online de armazenamento de documentos digitais (Foto: Solen Feyissa/Unsplash)

Primeiro, a GlobalCheck informou que três operadoras de telefonia russas, MTS, Megafon, e Rostelecom, haviam bloqueado o Google Docs. Mais tarde, a ONG Roskomsvoboda informou que uma quarta empresa de telecomunicações, a Tele2, havia feito o mesmo.

Após o bloqueio, a equipe de Navalny informou através do Twitter que havia publicado o arquivo em outro serviço digital semelhante. “Desculpem, queridos programadores, mas esta é uma lista de recomendações de votação inteligente para as eleições da Duma (o parlamento russo) no GitHub”.

O Roskomnadzor, órgão regulador da internet e dos meios de comunicação russo, negou ter ordenado o bloqueio e afirmou que o serviço funcionava normalmente. Isso na quinta-feira (16), um dia após os watchdogs informarem sobre a suspensão do serviço.

No início do mês, o Kremlin chegou a pressionar Apple e Google para que retirassem de suas lojas virtuais um aplicativo criado por aliados de Navalny, sob risco de aplicação de uma multa às duas big techs. A ordem partiu do Roskomnadzor, com base em uma decisão da Justiça que qualificou a Fundação Anticorrupção (FBK) de Navalny como extremista e proibiu sua atuação.

O aplicativo foi removido nesta sexta-feira (17), de acordo com a agência Associated Press.

No final de julho, o Roskomnadzor bloqueou 49 sites ligados ao político. O órgão tirou do ar a página navalny.com e outras 48 pertencentes a pessoas e organizações ligadas a ele.

O Kremlin também tem atuado para silenciar a imprensa independente. Em julho, a polícia prendeu o jornalista que investigou o envenenamento de Navalny em parceria com o site investigativo holandês Bellingcat. Roman Dobrokhotov, editor-chefe do The Insider, foi detido por calúnia após a publicação de reportagens desfavoráveis a Putin. 

Oposição silenciada

Alexei Navalny é o principal crítico do governo Putin. Ele está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica. Ele foi envenenado por novichok, um agente químico que afeta o sistema nervoso e foi desenvolvido pela ex-União Soviética nos tempos da Guerra Fria. O oposicionista acusa Moscou de tentar matá-lo.

Em fevereiro, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.

Pessoas próximas a Navalny também têm sido punidas sob acusações ligadas aos protestos de janeiro deste ano. Inclusive o irmão dele, Oleg Navalny, condenado a um ano de prisão, com a pena suspensa pelo período probatório de um ano.

Nikolai Lyaskinm, chefe de campanha de Navalny, pegou um ano de “liberdade restrita”, mesma punição da advogada Lyubov Sobol e de Lyusya Shtein, deputada municipal e integrante do grupo feminista Pussy RiotKira Yarmysh, porta-voz do oposicionista, e Oleg Stepanov, coordenador da equipe de Navalny, foram sentenciados a um ano e meio.

Por que isso importa?

Em 19 de setembro, a Rússia votará para escolher os membros da câmara baixa do parlamento russo, a Duma. Serão eleitos 39 parlamentares e nove governadores regionais.

Navalny espera reduzir a margem de vitória do Rússia Unida e causar um possível constrangimento em locais como Moscou e São Petersburgo, onde o sentimento anti-governista é mais evidente na população.

Na corrida para a votação, o Kremlin reprime figuras políticas da oposição e a mídia independente, enquanto a popularidade do Rússia Unida e de Putin diminui em meio aos esforços para lidar com uma economia fragilizada pela pandemia e anos de contínuas sanções.

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