Wagner Group recruta “jovens guerreiros” em escolas russas, diz governo britânico

Organização paramilitar entrou em choque com o Kremlin e perdeu acesso às prisões, onde vinha recrutando combatentes

À procura daqueles que podem vir a ser seus futuros mercenários, a organização paramilitar privada Wagner Group tem recrutado “jovens guerreiros” nas escolas de ensino médio da Rússia. A afirmação consta do mais recente boletim de inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, divulgado na segunda-feira (13).

“Nos últimos dias, recrutadores mascarados do Wagner também deram palestras sobre carreiras em escolas de ensino médio de Moscou, distribuindo questionários intitulados ‘aplicação de um jovem guerreiro’ para coletar os detalhes de contato dos alunos interessados”, diz o documento britânico.

O foco nos jovens russos não é novidade para a organização paramilitar, que já havia inaugurado em São Petersburgo o clube juvenil patriótico “Vagnerenok”. A proposta da entidade é “incutir na geração mais jovem o amor por sua pátria”.

A informação surge no momento em que a relação entre Evgeny Prigozhin, que lidera a organização paramilitar, e seu antigo aliado Vladimir Putin vive uma crise aparentemente grave, com o empresário reclamando publicamente da escassez de munição para seus mercenários na guerra da Ucrânia e dizendo que foi inclusive excluído de todos os canais oficiais de comunicação com o Kremlin.

Jovem membro do Wagner Group na sede da organização paramilitar (Foto: vk.com/altaywagner)

Um dos desdobramentos do distanciamento crescente entre Prigozhin e Putin foi o fim do recrutamento de combatentes nas prisões russas. “Cerca de metade dos prisioneiros que o Wagner já implantou na Ucrânia provavelmente se tornou vítima, e é improvável que as novas iniciativas compensem a perda do canal de recrutamento de condenados”, diz o Ministério da Defesa do Reino Unido.

Ainda de acordo com a inteligência britânica, a nova realidade pode forçar Prigozhin “a reduzir a escala ou a intensidade das operações do Wagner na Ucrânia”. Pouco disposto a fazer isso, entretanto, ele tem optado, como diz o boletim, por “novas iniciativas”.

Por exemplo, na semana passada, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos, havia destacado que a organização paramilitar abriu pelo menos três novos centros de recrutamento em clubes esportivos russos.

E a avaliação de Londres sugere que a atuação nessas agremiações é ainda mais ampla que o reportado inicialmente. “Desde o início de março de 2023, o Wagner montou equipes de divulgação baseadas em centros esportivos em pelo menos 40 locais em toda a Rússia”, diz o texto.

Ainda de acordo com o ISW, a crise que se estabeleceu entre Putin e Prigozhin parece irreversível. “Funcionários anônimos do Kremlin afirmaram que Putin tem estreitado cada vez mais seu círculo íntimo e é improvável que ofereça os benefícios que Prigozhin já teve, independentemente da gravidade da crise russa”, disse o centro de pesquisas em um análise publicada no domingo (12).

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