Aliado volta a reclamar e aumenta indícios de que a relação com Putin se deteriorou

Evgeny Prigozhin diz que foi excluído dos canais de comunicação com o governo após pedir munição para seus mercenários

O empresário russo Evgeny Prigozhin, que lidera a organização paramilitar privada Wagner Group, voltou a expor na quinta-feira (9) a crise que atravessa o relacionamento dele com o presidente Vladimir Putin, de quem é histórico aliado. Desta vez, ele diz ter sido excluído de todos os canais oficiais de comunicação com o Kremlin, segundo informou o jornal independente The Moscow Times.

No final de fevereiro, Prigozhin acusou importantes figuras governamentais de “traição” ao reclamar que seu grupo de mercenários, crucial para os esforços de guerra da Rússia na Ucrânia, não vinha recebendo os suprimentos de munição habitualmente enviados pelo Ministério da Defesa russo.

Então, nesta quinta ele foi questionado por um veículo de informação russo se as entregas haviam sido retomadas. Ao responder, não esclareceu a dúvida e ainda revelou mais um problema.

“Para me impedir de pedir munição, eles desligaram todas as linhas telefônicas especiais [do governo] em todos os escritórios e unidades [do Wagner]”, disse ele em mensagem de áudio reproduzida pelo empresário em seu próprio canal no aplicativo Telegram. “E bloquearam todos os passes para os órgãos responsáveis ​​pela tomada de decisões”, acrescentou. 

Putin: relação desgastada com um de seus mais importantes aliados (Foto: Kremlin.ru/Divulgação)

Em fevereiro, pouco depois de reclamar da falta de munição, tanto o empresário quanto o Ministério da Defesa disseram que o fornecimento havia sido restabelecido. Agora, porém, ele deu a entender que a situação está longe do ideal.

“Agora só posso pedir [novos carregamentos de munição] por meio da mídia”, disse ele no áudio. “E provavelmente farei exatamente isso”. 

Aliados, mas nem tanto

A mais nova manifestação pública de desagrado de Prigozhin reforça os indícios de que a relação entre ele e o Kremlin já viveu dias melhores.

Nos últimos meses, conforme o Wagner Group tem aumentado sua presença na Ucrânia, crescem também as críticas do chefe dos mercenários às forças armadas regulares. Ele habitualmente culpa a burocracia estatal pelas dificuldades que seus homens enfrentam na guerra e toma para si as principais conquistas militares russas no conflito.

Diante da rivalidade crescente com membros do governo e em meio à popularização de seu nome devido à guerra, o Wagner Group saiu das sombras e tem se esforçado para ter o máximo possível de visibilidade. Assim, Prighozin inaugurou uma sede oficial em São Petesburgo, abriu uma campanha pública de recrutamento de combatentes e até registrou a entidade legalmente no final do ano passado.

Falta de suprimentos

A questão da munição, no entanto, talvez não exponha a má vontade do Kremlin com o Wagner Group, e sim a escassez de suprimentos das forças armadas do país. Na quarta-feira (8), a rede Sky News revelou que dois navios russos deixaram o Irã no início de janeiro deste ano carregados com cerca de cem milhões de cartuchos de munição, por volta de 300 mil projéteis explosivos e outros itens de uso militar.

Teerã tem ganhado relevância dentro da máquina de guerra de Putin como fornecedor de armas e munição, vez que a Rússia está globalmente isolada devido às sanções ocidentais. Assim, recorre a fornecedores alternativos para equipar seus soldados.

As primeiras denúncias de que Moscou e Teerã iranianos negociam armas surgiram em 2022, com a informação de que drones iranianos vinham sendo usados pelas tropas russas na Ucrânia. Outro país que passou a equipar os soldados do Kremlin é a Coreia do Norte, inclusive com o restabelecimento de uma linha ferroviária para a entrega das cargas.

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