Wagner Group tem recrutado combatentes em clubes desportivos, segundo o ISW

Especialistas não descartaram que as ações visam compensar a perda de acesso ao recrutamento de novos combatentes nas colônias penais

Wagner Group abriu pelo menos três novos centros de recrutamento em clubes esportivos russos entre os dias 2 e 4 de março, disse o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos.

Os novos núcleos estão baseados no complexo esportivo Dynamo, em Samara, no clube esportivo Antares, em Rostov-on-Don, e no prédio da Federação Russa de Boxe, em Tyumen.

O fundador da empresa militar privada (PMC, da sigla em inglês), Evgeny Prigozhin, anunciou a cooperação com as agremiações na última quinta-feira (2). Segundo ele, uma das vantagens da parceria é que os locais podem verificar a condição física de quem deseja ingressar no Wagner.

Porta da nova sede do Wagner Group tem a logomarca da organização (Foto: reprodução/VK)

No entanto, especialistas do ISW acreditam que a organização paramilitar está buscando ampliar seu contingente dentro desses clubes por conta de dificuldades em recrutar prisioneiros para lutar na Ucrânia nos últimos meses, entrave imposto em parte pelo governo russo.

Tais problemas evidenciam que a relação entre Prigozhin e o Kremlin já viveu dias melhores. Na sexta-feira (3), o chefe da PMC sugeriu que as autoridades russas haviam impedido o Wagner de convocar detentos. De acordo com relatos da mídia, o Ministério da Defesa da Rússia agora está recrutando prisioneiros diretamente. 

Tradicional aliado do presidente russo Vladimir Putin, Prigozhin acusou importantes figuras governamentais de “traição”, aumentando a rixa com o poder estatal em meio ao conflito com Kiev. Ele reclama que seu grupo de mercenários, crucial para os esforços de guerra da Rússia, não tem recebido munição das forças armadas. Para piorar, insinuou que o Ministério da Defesa russo teria sabotado suprimentos das forças do grupo, disse o ISW.

Isso também ocorre em meio a rumores sobre as altas taxas de baixas entre seus combatentes, o que estaria colaborando para o desinteresse dos apenados em ingressar nas fileiras do Wagner, já que boa parte daqueles que saíram da prisão para o front não voltou para casa para aproveitar a liberdade prevista no contrato, segundo matéria do Meduza, jornal investigativo dedicado à Rússia.

Há ainda rumores de Moscou tem usado os combatentes recrutados nos presídios do país, que tiveram suas penas perdoadas em troca do serviço militar, para reduzir o risco à vida dos membros mais experientes do Wagner Group no campo de batalha. Eles seria, portanto, “dispensáveis”.

O Conselho de Segurança Nacional do governo Biden estimou que Prigozhin gastou US$ 100 milhões por mês para enviar 50 mil funcionários para as linhas de frente ucranianas, um número substancial de condenados recrutados nas prisões russas

Recentemente, a organização ainda inaugurou em São Petersburgo o clube juvenil patriótico “Vagnerenok”. A proposta da entidade é “incutir na geração mais jovem o amor por sua pátria”.

Por que isso importa?

O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin, tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.

A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.

Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram ao Wagner Group desde que ele deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.

De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países. Os mercenários são acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de mil deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022.

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