A Rússia tem usado combatentes recrutados nos presídios do país, que tiveram suas penas perdoadas em troca do serviço militar, para atuar na linha de frente na Ucrânia e assim reduzir o risco à vida dos membros mais experientes da organização paramilitar Wagner Group. A afirmação foi feita pelo Ministério da Defesa do Reino Unido em seu balanço diário de inteligência sobre a guerra.
De acordo com o governo britânico, os mercenários do Wagner Group têm sido cada vez mais atuantes no conflito, em particular nos combates travados atualmente pelo controle da cidade de Bakhmut, em Donetsk. “Nos últimos meses, [o Wagner] desenvolveu táticas ofensivas para aproveitar o grande número de condenados mal treinados que recrutou”, diz o Ministério no Twitter.
Os combatentes menos experientes, geralmente recrutados em prisões russas para servir ao Wagner Group, recebem um tablet ou celular que mostra a eles em um mapa a rota que deve ser seguida na linha de frente. Já os comandantes, aqueles com melhor treinamento, ficam na retaguarda, onde o risco é consideravelmente menor.
“Indivíduos e seções são ordenados a prosseguir na rota pré-planejada, muitas vezes com apoio de fogo, mas menos frequentemente ao lado de veículos blindados. Agentes do Wagner que se desviam de suas rotas de assalto sem autorização provavelmente estão sendo ameaçados de execução sumária“, diz o post.
(4/5) Individuals and sections are ordered to proceed on the preplanned route, often with fire-support, but less often alongside armoured vehicles. Wagner operatives who deviate from their assault routes without authorisation are likely being threatened with summary execution.
— Ministry of Defence 🇬🇧 (@DefenceHQ) December 19, 2022
Ainda de acordo com o balanço divulgado pela inteligência britânica, “essas táticas brutais visam a conservar os raros ativos de comandantes experientes e veículos blindados do Wagner, às custas dos recrutas condenados mais prontamente disponíveis, que a organização avalia como dispensáveis”.
Por que isso importa?
O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin, tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.
A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.
Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram ao Wagner Group desde que ele deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.
De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países. Os mercenários são acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de mil deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022.