Concentrações de gases de efeito estufa atingiram novo recorde em 2023

Organização Meteorológica Mundial relata acúmulo mais rápido de dióxido de carbono já registrado na história humana

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

A concentração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou mais de 10% em apenas duas décadas. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), esse é o acúmulo mais rápido de CO2 já registrado durante a existência humana.

Boletim Anual de Gases de Efeito Estufa da OMM, divulgado na segunda-feira (28), relata um novo recorde em 2023, com emissões causadas por incêndios florestais e uma possível redução na capacidade das florestas de absorver o CO2.

Aumento das temperaturas

Além disso, o levantamento ressalta que as emissões do gás ligadas às atividades industriais baseadas em combustíveis fósseis continuam “persistentemente altas”.

A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, diz que este novo recorde indica que o mundo está “fora do caminho para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global bem abaixo de 2º C”.

Poluição no Brasil, Pirapora, 19 de julho de 2008 (Foto: Guilherme/Flickr)

Para ela, “cada fração de grau de aumento de temperatura tem um impacto real em nossas vidas e em nosso planeta”.

Já a vice-secretária-geral da OMM, Ko Barrett, revela que por causa da vida útil extremamente longa do CO2 na atmosfera, o mundo está “fadado ao aumento das temperaturas por muitos e muitos anos”.

Aumento de 11,4%

Em 2004, a concentração de dióxido de carbono era de 377,1 partes por milhão, enquanto em 2023 chegou a 420 ppm, de acordo com a Rede Global de Vigilância da Atmosfera da OMM. Isso representa um aumento de 11,4% em 20 anos, e de 151% em comparação aos níveis pré-industriais.

A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO2 foi de três a cinco milhões de anos atrás, quando a temperatura era 2º C a 3º C mais quente e o nível do mar era entre dez e 20 metros mais alto do que agora.

Os gases metano e o óxido nitroso, também responsáveis pelo efeito estufa, atingiram 1.934 e 336 partes por bilhão, respectivamente.

Segundo Barret essas concentrações se refletem na velocidade do recuo das geleiras, aceleração do aumento do nível do mar e acidificação dos oceanos.

Ele alertou também para o número de pessoas que serão expostas ao calor extremo todos os anos, a extinção de espécies e o impacto nos ecossistemas e economias.

Tendência de aumento

A análise dos dados mostra que pouco menos da metade das emissões do CO2  permanecem na atmosfera. Pouco mais de um quarto é absorvido pelo oceano e cerca de 30% pelos ecossistemas terrestres, embora haja uma variabilidade considerável por causa de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña.

Durante os anos de El Niño, os níveis de gases de efeito estufa tendem a aumentar porque a vegetação mais seca e os incêndios florestais reduzem a eficiência dos sumidouros de carbono da terra.

O relatório da OMM indica que num futuro próximo, a própria mudança climática pode fazer com que os ecossistemas se tornem fontes maiores de gases de efeito estufa.

Segundo a análise, os incêndios florestais podem causar mais emissões de carbono na atmosfera, e o aquecimento dos oceanos podem limitar a absorção do gás. Consequentemente, mais CO2 permaneceria na atmosfera, acelerando o aquecimento global.

O Boletim de Gases de Efeito Estufa complementa o relatório sobre a lacuna de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Ambos foram publicados em antecipação à Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP29) em Baku, Azerbaijão.

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