FMI fala em ‘severa recessão global’ puxada pelo aumento das taxa de juros

Desaceleração ocorre após recessão, com custos alimentares e energéticos mais altos devido a cortes na cadeia de suprimentos e à guerra

O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê que o crescimento global diminuirá para 2,7% em 2023. Os dados constam do relatório Perspectivas da Economia Mundial, advertindo que “o pior ainda está por vir e que, para muitas pessoas, 2023 parecerá uma recessão”. Para este ano, a estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) permaneceu estável em 3,2%, sendo que em 2021 o desempenho chegou a 6%.

O alarme com a baixa da perspectiva de crescimento segue-se à severa recessão global causada pelo aumento das taxas de juros. A economia caminha em direção a “águas tempestuosas” em todo o mundo, de acordo com a análise. O FMI realça que as autoridades a cargo de políticas públicas manejaram mal o combate à inflação.

O problema pode ser contido com uma alta nos custos dos empréstimos, segundo o documento. No entanto, os desafios com as taxas elevadas incluem possíveis recessões em cadeia nos países ricos e crises de dívida nos pobres.

O documento foi publicado às vésperas das reuniões anuais do Banco Mundial e do FMI.

A organização do evento ocorre em meio a interrupções persistentes na cadeia de suprimentos e à guerra entre Rússia e Ucrânia, que dispararam os preços de energia e dos alimentos no ano passado. A situação obrigou os Bancos Centrais a aumentar as taxas de juros de forma acentuada para contrabalançar as economias.

O relatório do Fundo Monetário Internacional ressalta temores crescentes das autoridades de que um possível “pouso suave” possa iludir a economia global.

Tanto a previsões de crescimento de 3,2% para este ano, como da desaceleração para 2,7% em 2023, marcam quedas em relação ao que era esperado no início do ano. Naquela altura, o fundo projetou um crescimento global de 4,4% em 2022 e 3,8% em 2023.

Notas de yuan e dólar, novembro de 2019 (Foto: Divulgação/Unsplash/ Eric Prouzet)
Estados frágeis e afetados por conflitos

O abrandamento do crescimento econômico global piora de forma alarmante os níveis de pobreza,  fome, escassez de água, as pressões do custo de vida e a insegurança alimentar e energética. Esta realidade sobrepõe os desafios na economia global e a situação dos Estados frágeis e afetados por conflitos.

Os altos níveis de inflação e valores de compra de alimentos e da energia, agravados pelo conflito na Ucrânia, prejudicaram as famílias vulneráveis e os pobres de forma desproporcional. Deste modo, cresceram os riscos ao desenvolvimento, levando a temores de uma recessão global.

Autoridades financeiras, especialmente de economias avançadas, agiram para conter a inflação acima do esperado com apertos na política monetária acompanhados de altas nas taxas de juros. Com isso, as moedas depreciaram e houve grandes saídas de capital em mercados emergentes e economias em desenvolvimento.

O FMI antecipa que a inflação global atingirá o pico no final de 2022, passando de 4,7% em 2021 para 8,8%. A situação “permanecerá elevada por mais tempo do que o esperado anteriormente”.

Valorização do dólar    

A inflação global provavelmente cairá para 6,5% em 2023 e para 4,1% em 2024, segundo o FMI. O relatório destaca o aperto da política monetária em todo o mundo para combater a inflação e a “poderosa valorização” do dólar dos Estados Unidos em relação a outras moedas.

A China continua prejudicada pela “política zero Covid” e seus bloqueios resultantes.  Para outros mercados emergentes e economias em desenvolvimento, os choques de 2022 “reabrirão feridas econômicas que foram apenas parcialmente curadas após a pandemia.”

O relatório também destaca que o risco de desajuste da política monetária, fiscal ou financeira “aumentou acentuadamente”. A economia mundial “continua historicamente frágil” e os mercados financeiros “mostrando sinais de estresse”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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