O reconhecimento da Palestina por Reino Unido, Portugal, Austrália, Canadá e França desencadeou duras reações em Israel, unindo governo e oposição em um discurso quase unânime de condenação. Para analistas, a pressão internacional pode até reforçar o controle da coalizão de Benjamin Netanyahu, apesar do isolamento crescente do país no cenário global. As informações são do The Guardian.
No domingo, os quatro países anunciaram o reconhecimento formal da Palestina, e a França deve oficializar a medida nesta segunda-feira. Em resposta, Netanyahu classificou a decisão como “absurda” e uma “recompensa ao terrorismo”. O presidente israelense afirmou que as “forças das trevas” seriam encorajadas, enquanto líderes da oposição usaram termos semelhantes, chamando a medida de “desastre diplomático”.

Reação interna
Apesar das críticas, especialistas afirmam que o impacto prático será limitado. Yaakov Amidror, ex-assessor de segurança nacional de Netanyahu, disse que a medida “não terá um milímetro de influência na formulação de políticas”.
Netanyahu lidera o governo mais à direita da história de Israel, apoiado por facções religiosas sionistas extremistas e partidos ultraortodoxos. Essa base dificilmente será abalada por críticas externas, mesmo diante da ofensiva em Gaza, que já matou mais de 65 mil pessoas, e da expansão dos assentamentos na Cisjordânia ocupada.
Para Gideon Rahat, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, a onda de reconhecimentos, chamada de “tsunami diplomático” pela imprensa local, pode, no curto prazo, fortalecer ainda mais Netanyahu.
Isolamento internacional
Israel prometeu retaliar países que reconhecerem a Palestina, especialmente a França, com medidas como expulsão de diplomatas e fechamento de consulados em Jerusalém Oriental. Analistas, no entanto, alertam para os riscos de agravar o isolamento internacional.
A Dra. Shira Efron, da Rand Corporation, destacou que em Israel o tema é visto como um “jogo de soma zero”: apoiar a autodeterminação palestina seria, para muitos, equivalente a se opor ao Estado de Israel.
Netanyahu também sinalizou a aceleração da construção de assentamentos na Cisjordânia, prática considerada ilegal pelo direito internacional. Observadores temem que o premiê possa avançar em direção à anexação em larga escala do território, embora países árabes, como os Emirados Árabes Unidos, tenham advertido que isso cruzaria uma “linha vermelha”.
Divisões internas
Enquanto a crise diplomática se intensifica, a rotina em cidades como Jerusalém segue aparentemente normal. Para muitos israelenses, porém, cresce a preocupação de que o isolamento do país aumente. Pesquisas indicam que a maioria da população apoia alguma forma de partição territorial, ainda que a solução de dois Estados seja vista hoje como “uma marca tóxica”.
Com eleições previstas até novembro do próximo ano, analistas acreditam que a escalada do isolamento internacional pode influenciar eleitores centristas e tornar-se um tema decisivo no futuro político de Israel.