Abaixo-assinado cobra da ONU postura mais dura contra o apartheid de gênero do Taleban

Petição organizada por uma rede global de mobilização humanitária alega que os radicais cometem crime contra a humanidade

A Avaaz, uma rede global de mobilização humanitária através da internet, colocou no ar um abaixo-assinado que cobra da ONU (Organização das Nações Unidas) uma postura mais dura contra o Taleban em razão da repressão à mulher no Afeganistão. O objetivo final é pressionar a entidade para que reconheça o apartheid de gênero como crime contra a humanidade.

A repressão contra a mulher no Afeganistão desde que o Taleban retornou ao poder, em agosto de 2021, vem sendo reconhecido globalmente como um apartheid de gênero. A Avaaz concorda com a avaliação e pede que ela seja reconhecida como crime contra a humanidade.

Com mais de 474 mil assinaturas até a manhã desta terça-feira (24), a petição é ampla e cobra da ONU o fim da “impunidade para regimes que matam, mutilam e torturam”. Toma o caso do Afeganistão ao pedir que um novo tratado de crimes contra a humanidade seja aprovado, ante ao risco de que países como China e Rússia usem sua influência para vetar a medida.

Uma mulher afegã vestida com uma burca tradicional caminha pelo trânsito no centro de Cabul (Foto: Jason Brisebois/Flickr)

“Se conseguirmos mobilizar mais países, poderemos impedir que nações como a China e a Rússia atrapalhem o processo”, diz a Avaaz. “Quando juntarmos assinaturas o bastante, entregaremos essa petição às lideranças da ONU e exigiremos que o apartheid de gênero seja considerado um crime contra a humanidade.”

Mulheres silenciadas

A liberdade das mulheres no Afeganistão está profundamente limitada desde a ascensão do Taleban ao poder. Restrições incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso resulta na perda de emprego para muitas mulheres, contribuindo para o empobrecimento da população.

A situação tornou-se ainda mais difícil nas últimas semanas, após a imposição de um pacote de regras anunciado em agosto que proíbe uma série de atividades, incluindo o uso de transporte público, a execução de música e a realização de celebrações.

Entre as rígidas regras impostas, o artigo 13 exige que as mulheres cubram todo o corpo, incluindo o rosto, em público para evitar “tentação”. Elas não podem usar roupas que sejam transparentes, apertadas ou curtas. Além disso, devem se cobrir completamente, mesmo na frente de pessoas que não sejam muçulmanas, para prevenir “corrupção”.

As novas leis consideram até a voz da mulher algo “íntimo demais” para ser ouvido em espaços públicos, o que na prática as proíbe de cantar, declamar ou ler em voz alta. Elas também estão proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares próximos, assim como os homens não podem olhar para mulheres que não sejam suas parentes.

O documento, com 114 páginas e 35 artigos, é a primeira declaração oficial de leis sobre vícios e virtudes desde que o Taleban retornou ao poder em 2021, representando um passo importante na institucionalização de sua interpretação da lei islâmica.

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