Entre os meses de setembro e outubro, os primeiros desde a tomada do poder pelo Taleban no Afeganistão, mais de 30 casos de violência e ameaças contra jornalistas locais foram registrados. O relatório aponta que 90% dos delitos foram de responsabilidade do movimento jihadista que controla o país, denunciou um órgão de vigilância de mídia nesta quarta-feira (27). As informações são do jornal Westport News.
De acordo com ocorrências registradas pelo Sindicato Nacional de Jornalistas do Afeganistão (Anju, da sigla em inglês), 40% dos casos foram de espancamento, 40% de ameaças verbais e 20% de prisões por um dia. Um jornalista foi morto.
O documento também revelou que a violência ocorre na maior parte das vezes fora de Cabul, nas províncias. Dos 30 casos, somente seis foram perpetrados na capital.
O relatório vem a conhecimento do mundo em um momento em que os talibãs lançam esforços de diplomacia a uma comunidade internacional bastante relutante em reconhecer formalmente seu governo que, de acordo com os insurgentes, é responsável e comprometido com a segurança da população.
O vice-ministro da Cultura e da Informação e porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, disse à agência Associated Press que tem conhecimento sobre os atos violentos contra os profissionais da imprensa e está investigando os casos, bem como fez promessas de punir os agressores.
“A nova transição e o pouco profissionalismo de nossos amigos causaram isso”, disse Mujahid.
Escalada da violência
A vertiginosa violência contra jornalistas no Afeganistão levanta dúvidas sobre as prometidas liberdades de imprensa e de expressão anunciadas pelo grupo islâmico ao tomar o poder central do país. Relembre alguns casos:
Em julho, o repórter fotográfico indiano Danish Siddiqui, que trabalhava para a agência Reuters, morreu enquanto fazia a cobertura jornalística de um confronto entre forças de segurança do Afeganistão e o Taleban.
Em agosto, o jornalista Ziar Khan Yaad, da emissora afegã TOLO TV, foi atacado por membros do Taleban em Cabul. Yaad e seu cinegrafista foram surpreendidos pela ação violenta dos extremistas enquanto trabalhavam em uma reportagem sobre a situação de pessoas desempregadas e trabalhadores.
Em setembro, o fotojornalista afegão Morteza Samadi passou mais de três semanas detido pelo Taleban. A informação de sua soltura foi confirmada por amigos do fotojornalista à reportagem de A Referência.
Em outubro, membros do Taleban agrediram um grupo de jornalistas que faziam a cobertura de um protesto de mulheres em Cabul. Um fotojornalista estrangeiro foi atingido com uma coronhada de um rifle por um talibã, que ofendeu o fotógrafo enquanto desferia socos e chutas nas costas dele. Pelo menos mais dois jornalistas foram atingidos no processo de dispersão, enquanto os extremistas os perseguiam portando rifles e outras armas pesadas.